Conforme dissemos na postagem anterior (aqui), a Linha Branca de Umbanda, com o tempo, passou a se denominar simplesmente Umbanda. Propomos abaixo uma definição que acreditamos enfeixar suas características nucleares.
Umbanda — Prática religiosa com o objetivo de libertar obsessões e curar moléstias espirituais, realizada nos chamados terreiros1, fundamentada na fé em um deus maior (Zâmbi), em divindades do panteão iorubano2 e em santos católicos, e caracterizada por ritualística própria (defumações, cantos ritmados, etc.), mediunismo ostensivo e manifestações de espíritos arquetipicamente classificados (caboclos, pretos-velhos, crianças, etc., além de, ocasionalmente, exus3).
1 Na umbanda deturpada (vide nota 2) os locais de culto são denominados tendas espíritas ou mesmo centros espíritas, como no kardecismo
2 Já em meados da década de 1910, foi iniciado um movimento que, sob a justificativa de "purificação dos trabalhos de magia nos terreiros", para "expurgar Umbanda do rito essencialmente africanista" (vide pág. 15 do periódico O Semanário de número 91, 2 a 9 de janeiro de 1958), acabou distorcendo-a completamente. Foi desconsiderada a existência das divindades do panteão iorubano (no mínimo cinco delas eram cultuadas: Oxalá, Iemanjá, Xangô, Oxóssi e Ogum) e utilizados seus nomes para "apelidar" ícones do catolicismo (vide, por exemplo, os livros "O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda", Leal de Souza, 1933, e "Umbanda - magia branca e Quimbanda - magia negra", Lourenço Braga, 1942), prática que já era comum em algumas macumbas (vide "O Negro Brasileiro", Arthur Ramos, 1934). Foram também abolidos os atabaques e outros instrumentos de percussão. Para piorar, foi criado o artificalismo das ditas sete linhas (vide aqui), algo completamente estranho à prática religiosa original. (Por incrível que pareça, boa parte, senão a maior, dos terreiros atuais seguem toda essa deturpação)
3 Enquanto alguns autores umbandistas, como Leal de Souza e Lourenço Braga, consideram os exus entidades com individualidade (vide obras citadas), outros, como João de Freitas, têm opinião bastante diversa, considerando que exus não seriam almas ou espíritos, mas frutos da ação do pensamento do médium sobre certos fluidos sutis (vide livro "Exu na Umbanda", 1971)
— Texto modificado em novembro de 2024