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segunda-feira, outubro 30, 2023

Uma curiosa concorrência

Nas décadas de 1970 e 1980, as editoras Espiritualista e Eco (vide aqui) disputavam acirrada e quase que exclusivamente o mercado de livros de umbanda, quimbanda e cultura popular. Elencarei abaixo alguns títulos que mostram como isso era feito de forma bastante explícita:

- Pomba-Gira (as duas faces da umbanda), Antonio Alves Teixeira, Ed. Eco
- Pomba Gira (mirongueira), José Ribeiro, Ed. Espiritualista

- Catecismo de umbanda, Ab'D 'Ruanda, Ed. Espiritualista
- Catecismo do umbandista, Pompílio Possera Eufrásio, Ed. Eco

- Oxalá (o médium supremo), José Ribeiro, Ed. Espiritualista
- Oxalá, Lucius (Antonio Alves Teixeira), Ed. Eco

- Dicionário africano de umbanda, José Ribeiro, Ed. Espiritualista
- Dicionário da umbanda, Altair Pinto, Ed. Eco

- Guia e ritual para organização de terreiros de umbanda, Tôrres de Freitas e Silva Pinto, Ed. Eco
- Formação e cruzamento de terreiros de umbanda, N. A. Molina, Ed. Espiritualista

- O poder das ervas na umbanda, José Ribeiro, Ed. Eco
- Ervas sagradas na umbanda, João Sebastião das Chagas Varella, Ed. Espiritualista

- Cerimônias da umbanda e do candomblé, José Ribeiro, Ed. Eco
- O ritual na umbanda e no candomblé, José Paiva de Oliveira, Ed. Espiritualista

- Despachos e oferendas na umbanda, Antonio Alves Teixeira Neto, Ed. Eco
- Manual de oferendas e despachos na umbanda e na quimbanda, N. A. Molina, Ed. Espiritualista

- Como desmanchar trabalhos de quimbanda (2 vols.), Antonio Alves Teixeira, Ed. Eco
- Como fazer e desmanchar trabalhos de quimbanda, N. A. Molina, Ed. Espiritualista

- Preto velho e seus feitiços, Antonio Alves Teixeira Neto, Ed. Eco
- Feitiços de preto velho, N. A. Molina, Ed. Espiritualista

- Livro de São Cipriano, Possidônio Tavares | Perdigão Vizeu | Botelho Sabugosa, Ed. Eco
- Idem, N. A. Molina, Ed. Espiritualista

- Livro da Cruz de Caravaca, Ed. Eco
- Idem, Ed. Espiritualista

- Como cortar olho grande, N. A. Molina, Ed. Espiritualista
- Como evitar o olho grande, Carlos Francisco Xavier, Ed. Eco

- A cura pela simpatia, N. A. Molina, Ed. Espiritualista
- Como fazer simpatias, Maria Bebiana Ferreira dos Santos, Ed. Eco

- Manual da cartomante, Yllema Hormazabal, Ed. Eco
- Antigo manual da cartomante, N. A. Molina, Ed. Espiritualista

- Manual de rezas e mandingas, Cândido Emanuel Félix, Ed. Eco
- Antigo breviário de rezas e mandingas, N. A. Molina, Ed. Espiritualista

-- Levantamento realizado em jun/2021 e atualizado em out/2023.

domingo, outubro 29, 2023

N. A. Molina, um prolixo autor

Pouco sei do autor N. A. Molina, que escreveu sobre feitiçaria, umbanda, quimbanda e cultura popular, além de que nascera em 1931, dado obtido de pesquisas realizadas no Catálogo de Livros da Biblioteca Nacional em 28/01/2013. Suas obras começaram a ser publicadas na década de 1970, pela Editora Espiritualista Ltda., que lançou todas elas. Iniciei ainda em 2013 um levantamento dos livros dele, atualizado de tempos em tempos. Até o momento (data-base: 30/10/2023), foram encontradas 53 obras, algumas delas integrantes de coleções, como a Coleção 7 e a Coleção Saravá. Abaixo, a relação dos livros desta última coleção que encontrei até então, não necessariamente em ordem de publicação:
1- Exu
2- Ogum
3- Oxum
4- Oxóce
5- Xangô
6- Inhasã
7- Ibeijada
8- Iemanjá
9- Obaluaiê
10- Seu Tiriri
11- Pomba Gira
12- Seu Marabô
13- Seu Caveira
14- Maria Padilha
15- O Povo d'Água
16- Seu Zé Pelintra
17- Seu Tranca Ruas
18- A Linha das Almas
19- O Rei das Sete Encruzilhadas

Outros livros que Molina escreveu sobre umbanda/quimbanda:
-- "Formação e cruzamento de terreiros de umbanda"
-- "Feitiços de preto velho"
-- "Feitiços de um preto velho quimbandeiro"
-- "Trabalhos de um preto velho feiticeiro"
-- "Como fazer e desmanchar trabalhos de quimbanda"
-- "Trabalhos de quimbanda na força de um preto velho"
-- "Despachos e trabalhos de quimbanda"

sexta-feira, junho 04, 2021

Autores umbandistas e suas autocontradições

É pena que com o ingresso de letrados metidos a escritores no universo umbandista a coisa tenha perdido sua simplicidade original e se transformado numa confusão só. Já os primeiros autores que escreveram sobre o assunto não se entendiam (vide aqui). Aliás, eram até autocontraditórios! Além de Lourenço Braga, autor cuja obra principal tivemos oportunidade de analisar em outra ocasião (vide link fornecido), há outros. Vejamos.

Emanuel Zespo, em "O que é a umbanda?" (2a. ed., 1949), à pág. 47 diz: (...) convidamos os kardecistas a visitar sessões e terreiros de Umbanda onde "baixam" os Grandes Orixás. Mas na nota 8 do cap. II (pág. 36) havia dito: O supremo Xangô, como sucede com os demais Grandes Orixás africanos, "não baixa" à terra... Ora, os ditos "Grandes Orixás" baixam ou não?

Oliveira Magno, à pág. 18 de "A umbanda esotérica e iniciática" (1950), diz: (...) Mìsticamente, os Orixás representam legiões de espíritos sob a regência ou o comando de um espírito chefe (...) ou seja, as sete linhas, ou melhor, o Setenário nagô com a sua correspondência.

Adiante, porém, na pág. 41:
(...) Oxalá, Iêmanja, Ogun, Oxosse, Xangô, Oxun, Omulu, nomes êsses dados às sete legiões de espíritos governantes dos sete dias da semana. Chamamos a atenção que esta denominação não significa ôrixás mas, sim, nomes êsses dados a cada uma das legiões (ou linhas) que constituem o Setenário nagô.
Vai entender...

Em 1953 veio a lume a obra de Aluizio Fontenelle "A umbanda através dos séculos". À pág. 159 da 5a. edição, consta a seguinte polêmica afirmação do autor:
Sobre essa Umbanda comum que se pratica nos inúmeros terreiros do Brasil, essa Umbanda mistificada e misturada aos credos fetichistas conhecidos com os nomes de Candoblé, Cangerês, Quimbanda etc., estou de pleno acordo com a divisão da mesma em sete (7) linhas; entretanto, segundo as comunicações que me foram dadas por entidades do Astral, trabalhadores das falanges de pretos velhos, caboclos, hindus, e até mesmo pelos próprios EXUS, já essa divisão sofre uma severa modificação (grifei).
À pág. 161, porém, ao comentar sobre sua divisão, diz: Pelo exposto, o REINO DE OBATALÁ comanda sete cortes, as quais, por sua vez, comandam as 7 linhas de Umbanda (...).

Ou seja, a divisão da umbanda em sete linhas "sofre uma severa modificação" e continua em sete linhas (?!).

Da pág. 10 de "As impressionantes cerimônias da umbanda" (1955), obra de Byron Torres de Freitas e Tancredo da Silva Pinto, depreende-se que Oxalá seria apenas o nome de uma linha de umbanda, contradizendo o que consta na pág. 7: "... Oxalá, o filho de Deus ..." (Jesus). Na mesma pág. 10, é dito que o chefe da falange de Oxalá (Oxalás seria mais apropriado, conforme contexto), ou seja, o orixá maior desta falange, de nome Oxalá Alufân, "baixaria" nos terreiros de 21 em 21 anos, mas foi dito na pág. 9 que os grandes orixás não baixam à terra...

O já citado Emanuel Zespo, à pág. 63 de "Codificação da Lei de Umbanda - parte científica e parte prática" (1960), diz que orixá "é uma entidade do plano invisível que jamais encarnou entre humanos" (grifei). À pág. 140, porém, ele zomba dessa ideia! Vejam: "orixás são, antes e acima de tudo, fôrças da natureza, princípios criadores ou destruidores, sòmente personalizáveis na imaginação do homem sempre pronto a pensar num Deus barbudo e velho, qual o Padre Eterno dos católicos" (grifei). Pode isso, Adirso?!

José Paiva de Oliveira, apesar de afirmar, às págs. 54 e 56 de "Os orixás africanos na umbanda", que a correlação de tais divindades com santos católicos apenas se deu como forma dos sacerdotes africanos vindos ao Brasil como escravos fugirem à perseguição religiosa de seus senhores, católicos, ou seja, como forma de disfarce, às págs. 103 e 105 do mesmo livro "escorrega", considerando Jesus Cristo e São Cosme e São Damião como orixás propriamente ditos, o primeiro identificado com Oxalá, e os outros dois com Ibeji.

Nota: A abertura deste post foi alterada em 04/10/2023 e um outro autor contraditório foi acrescentado em 08/11/2023

quinta-feira, maio 27, 2021

Não atualização em números de edição

Em 1951 foi publicada, pela Gráf. Ed. Aurora, a 2ª. edição de “Alquimia de Umbanda”:
Por volta de 1955, relançada na “Coleção Espiritualista” da mesma editora, esqueceram de atualizar o número da edição:
Em 1959, pela Editora Espiritualista, foi lançada a 3ª. edição de "O Espiritismo no Conceito das Religiões e a Lei de Umbanda":
Em 1983 foi lançada uma nova edição, com capa ilustrada e várias cores:
A folha de rosto do livro, entretanto, registrou igualmente "3ª. edição":
Em 1960, pela Editora Espiritualista, foi lançada a 2ª. edição de “Codificação da Lei de Umbanda”:
Mais tarde, na década de 1970 ou início da de 1980, já com capa ilustrada e várias cores, saiu uma nova edição:
Curiosamente, porém, foi mantida a mesma folha de rosto da 2ª. edição:

sábado, janeiro 30, 2021

"A construção histórica da literatura umbandista": inexatidões, erros e informações falsificadas

(Edmar Arantes)

Há dez anos atrás adquiríamos o livro mencionado no título desta postagem, conforme informamos em outro post deste mesmo blog (aqui). Escrito por Diamantino Trindade, prefaciado por Alexandre Cumino e publicado em 2010 pela Editora do Conhecimento, que afirma na orelha da obra ser o autor "considerado o maior historiador da umbanda", o livro, que contém 288 páginas, é dividido em 6 (seis) partes, a saber: "Antônio Eliezer Leal de Souza: o primeiro escritor de umbanda", "A umbanda na ótica dos umbandistas", "A umbanda na ótica da sociologia e da antropologia", "A umbanda na ótica da Igreja Católica", "A umbanda na ótica do kardecismo" e "A umbanda na ótica das revistas". Aqui, neste texto, restringir-nos-emos à exposição dos problemas encontrados nas duas primeiras partes, que perpassam 174 páginas, a grande maioria deles notados já há dez anos. O texto será dividido em seções, nomeadas pela espécie de "problema" exemplificado e em ordem crescente de gravidade. Erros menores, como trocas de nomes, não serão expostos.

Inexatidões
O autor exibe as capas da maior parte dos livros citados no texto, mas, com exceção daquelas exibidas nas páginas 30, 31 e 84, não especifica as edições referentes a elas, fazendo com que o leitor tenha a falsa impressão de que as capas apresentadas correspondem às edições originais, o que nem sempre é verdade.

Dois pesos, duas medidas
Referindo-se a Loureço Braga, diz o autor: "Lourenço prestou um desserviço à umbanda quando afirmou que os exus são egoístas, interesseiros e vingativos" (pág. 47). Ora, ora... Leal de Souza, referindo-se a estes seres, disse praticamente o mesmo no cap. XIV (A magia negra) de seu livro O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda: "Tais entidades tem ufania de poder; são com frequência, irritadiças e vingativas"... A respeito de Leal de Souza, porém, Trindade não faz crítica alguma. Muito pelo contrário! Só elogios. Muitos elogios. Elogios por tudo quanto é canto...

Uma omissão capciosa
Num passar de olhos no índice da obra, observamos que o autor simplesmente fez "vistas grossas" ao sacerdote e escritor umbandista F. Rivas Neto, autor de importantes obras, como Umbanda – a Proto-Síntese Cósmica, publicada pela Livraria Freitas Bastos em 1989 e posteriormente reeditada pela Editora Pensamento. Não temos dúvida de que isto ocorreu por questões de ordem pessoal, e é lamentável que um autor que pretenda abordar historicamente determinado assunto simplesmente omita certos nomes por questões de afeição. Curiosidades à parte, Diamantino Trindade fez questão de mencionar a si mesmo dentre os autores da literatura umbandista, ainda que não tenha o mesmo alcance de Rivas Neto neste campo.

Informações erradas
1- À pág. 42 consta que o livro Umbanda, de João de Freitas, teria sido publicado em 1941 pela Editora Espiritualista. Grande erro. Tal livro foi publicado inicialmente sem editora e, até onde sei, nunca chegou a ser editado pela Espiritualista. E mais: esta editora nem mesmo existia em 1941! Só foi criada em meados de 1957 (vide aqui).
2- À pág. 43 consta que o referido livro foi publicado após o Primeiro Congresso Brasileiro de Espiritismo de Umbanda. Está errado. O livro de João de Freitas foi publicado antes, em 1941 (o livro do congresso saiu em 1942).
3- À pág. 47 consta que Umbanda (Magia Branca) e Quimbanda (Magia Negra), livro de Lourenço braga, teria sido publicado por uma tal Editora São José. Está errado. O livro foi publicado pela Livraria Jacintho.
4- Na mesma página Trindade diz que Braga "não havia compreendido que a umbanda era uma religião autônoma e não fazia parte do espiritismo". Errado. Braga nem mesmo associa o conceito de religião a "umbanda", ora utilizando a palavra para designar "magia branca", ora para nominar uma "organização espiritual".
5- E o autor continua... Afirma que Braga teria dito que a "umbanda tornou-se conhecida no Brasil através da colonização africana", ignorando, portanto, seu caráter de religião brasileira. A transcrição não fora feita corretamente. O que Lourenço Braga disse foi o seguinte: "'Umbanda' tornou-se conhecida no Brasil através da colonização africana. Sua significação era a seguinte: -- fazer magia, por intermedio das forças invisiveis [...]" (Umbanda e Quimbanda, 1942, p. 21). Ou seja, claro está que Braga referia-se à palavra "umbanda", não à religião umbanda, mesmo porque, conforme já dissemos, no livro o autor não utiliza a palavra "umbanda" para designar uma religião.
6- À pág. 48 Trindade afirma que a obra Trabalho de Umbanda ou Magia Prática, de Lourenço Braga, teria sido publicada em 1950 por Edições Fontoura, quando na realidade foi publicada em 1946 pela Editora Moderna...
7- Na pág. 49, referindo-se às descrições que Lourenço Braga (Trindade tem verdadeira fixação em tentar diminuir o trabalho deste!) fizera sobre os exus, diz: "Estas descrições foram suficientes para que os 'santeiros' criassem as imagens aberrantes que ainda hoje são comercializadas nas casas de artigos religiosos de umbanda". Erro. Antes da publicação do trabalho de Braga já era comum serem associadas aos exus figuras estranhas. Por exemplo, na obra Umbanda (1941), de João de Freitas, capítulo No Leblon, o autor foi apresentado à imagem de Exu Tiriri: "uma cabeça com dois chifres e orelhas pontiagudas à semelhança de Fauno, o deus campestre, segundo a mitologia romana".
8- À pág. 51 consta que a obra Umbanda Esotérica e Iniciática (1950) teria sido publicada pela Editora Espiritualista. Errado. Ela foi lançada pela Editora Aurora, só posteriormente tendo sido editada pela Espiritualista.
9- À pág. 52 consta que a obra Umbanda e Ocultismo teria sido publicada pela Editora Espiritualista. Errado. Ela foi lançada pela Editora Aurora em 1953, só posteriormente tendo sido editada pela Espiritualista.
10- À pág. 55 consta que a obra Alquimia de Umbanda teria sido publicada pela Editora Espiritualista em 1950. Errado. Esta obra fora lançada pela Editora Coruja em 1949, só posteriormente sendo editada pela Espiritualista.
11- Na mesma página, consta que a obra Umbanda Mista teria sido publicada pela Editora Espiritualista. Errado. Esta obra fora lançada sem editora em 1951, só posteriormente sendo editada pela Espiritualista.
12- À pág. 58 consta que a obra A Umbanda Através dos Séculos teria sido publicada em 1950 pela Editora Espiritualista. Errado. Em 1950 a Ed. Espiritualista nem mesmo existia!
13- À pág. 60 diz que a obra Exu teria sido publicada em 1951 pela Editora Espiritualista. Errado. Ela foi publicada sem editora em 1952, só posteriormente tendo sido editada pela Espiritualista.
14- À pág. 70 é dito que a obra O que é a Umbanda? teria sido publicada pela Biblioteca Espiritualista Brasileira em 1953. Errado. Ela foi publicada sem editora em 1946, e com o autor (Emanuel Zespo) adotando seu nome verdadeiro, Paulo Menezes. A edição de 1953 é a 3a..
15- Na mesma página é dito que "a obra não traz grandes novidades em relação ao que já havia sido escrito anteriormente", mas ela foi pioneira em expor a umbanda como a Quarta Revelação (o Antigo Testamento seria a primeira, o Novo Testamento a segunda, e a Doutrina Espírita a terceira).
16- À pág. 74 é dito que a obra Lições de Umbanda (1954) teria sido publicada pela Editora Espiritualista. Errado. Ela foi lançada pela Editora Aurora, só posteriormente tendo sido editada pela Espiritualista.
17- À pág. 76 é afirmado que o Jornal de Umbanda teria sido fundado em 1939 por Zélio de Morais. Alexandre Cumino expõe informação diversa em sua obra História da Umbanda (2010). Tal jornal teria sido criado em 1949 pela UEUB (União Espírita de Umbanda do Brasil). Vide págs. 158-159 da obra citada.
18- À pág. 80 afirma que a obra Doutrina Secreta da Umbanda, de W. W. da Matta e Silva, teria sido publicada em seguida a Umbanda - Sua Eterna Doutrina (1957). Errado. Em sequência à obra referida foi publicada Lições de Umbanda e Quimbanda nas Palavras de um Prêto-Velho (1961). Doutrina Secreta da Umbanda só seria publicada em 1967.
19- Na mesma página, afirma que Macumbas e Candomblés na Umbanda teria sido publicada em 1975. Errado. Tal obra foi publicada em 1970.
20- À pág. 86 é dito que o livro Okê Caboclo! teria sido publicado em 1961 pela Editora Eco. Errado. Tal livro foi publicado em 1968. Aliás, em 1961 a Editora Eco nem mesmo existia!
21- À pág. 88, Trindade afirma que Umbanda dos Prêtos Velhos teria sido publicada em 1965 pela Editora Espiritualista e só depois reeditada pela Editora Eco. Não conseguimos verificar esta informação, e acreditamos estar incorreta, pois há uma edição já de 1965 pela Eco.
22- Na mesma página é dito que na obra referida o autor procura desvincular a umbanda do ramo do espiritismo. Não é isso que o autor faz. Ele diferencia umbanda de kardecismo, mas considera ambos como formas de espiritismo.
23- Na pág. 89 Trindade fala que Despachos e Oferendas na Umbanda teria sido publicada em 1974. Errado. A obra foi publicada em 1969. Além disso, ele fala da reprodução, na obra, de trecho do autor Alvarino Selva. Não se trata de um outro autor. Alvarino Selva é apenas um dos pseudônimos que Teixeira Neto utilizava (vide, deste autor, publicado sob o pseudônimo Antônio de Alva, Exu – o gênio do bem e do mal, Ed. Espiritualista, s/d, pág. 10).
24- À pág. 91 é dito que o periódico Jornal de Umbanda teria sido lançado em 1947. Sobre este ponto, vide nota 17, acima.
25- À pág. 103 Trindade diz que no plano físico a umbanda teria sido fundada em 1935 pelo Cap. Pessoa (José Álvares Pessoa). Um disparate, simplesmente.
26- Na pág. 114 é dito que a obra Umbanda de Caboclos teria sido publicada em 1972. Errado. Ela foi publicada em 1967.
27- Na pág. 134 é dito que a obra de Cavalcanti Bandeira O que é a umbanda teria sido publicada em 1973. Errado. Ela foi publicada em 1970.

Falsificações históricas
1- À pág. 22 Trindade afirma, referindo-se a Leal de Souza: "Devido ao seu prestígio e conhecimento, o Primeiro Congresso Brasileiro de Espiritismo de Umbanda, realizado em 1941 no Rio de Janeiro, aprovou essas Sete Linhas". Tremenda MENTIRA! As "linhas" de Leal de Souza não foram sequer apresentadas no congresso referido! Representando as tendas espíritas São Jerônimo e São Jorge, respectivamente, fundadas sob ordem do Caboclo das Sete Encruzilhadas (Leal de Souza, que não participou do congresso, também dirigia uma dessas tendas, a Nossa Senhora da Conceição), os drs. Jayme Madruga e Antonio Barbosa nem tocaram no assunto em suas preleções! (O Primeiro Congresso Brasileiro de Espiritismo de Umbanda teve os trabalhos ali apresentados compilados em livro. Basta consultá-lo. Está disponível na internet.)
2- À pág. 43, mais uma vez tentando insuflar o prestígio de Leal de Souza, afirma: "João de Freitas [em Umbanda, 1941] cita Leal de Souza diversas vezes, mostrando que era uma referência importante para ele" (grifei). Tremendo EXAGERO! Temos a obra de João de Freitas em sua 3a. edição, de 1946. Leal de Souza é citado apenas duas vezes, com trechos transcritos às págs. 43-44 e 121 do referido livro. Aliás, diga-se de passagem, João de Freitas, no Primeiro Congresso de Espiritismo de Umbanda (1941), posicionou-se CONTRA a divisão linhas brancas / linhas negras utilizada por Leal de Souza em sua obra O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda (1933). Vejamos o que ele diz: "Não concebendo, como não podemos conceber a Umbanda sem o seu ritual, porque sem ele, ela deixa de ser Umbanda, proponho o seguinte: 1.°) A Federação Espírita de Umbanda não reconhecerá, por forma alguma, linhas brancas nem linhas pretas; visto que isto significaria o seu desmembramento em detrimento do esforço dispendido [...]".
3- À pág. 103 Trindade diz que a obra Umbanda: religião do Brasil teria sido publicada em 1968. Como ela fora publicada em 1960, pensamos inicialmente que se tratava apenas de mais uma informação errada do autor. Mas não! Foi tudo muito bem urdido. Agiu realmente como um pilanta o Sr. Diamantino. Pois vejam: na pág. 107, para que a fundação da umbanda coincidisse justamente com o 1908 tão aclamado por ele e outros irresponsáveis (essa data não tem fundamento histórico algum), Trindade ADULTEROU trecho de um artigo de José Álvares Pessoa constante do livro citado! O original diz o seguinte: "Há uns quarenta anos mais ou menos, aproveitando a enorme aceitação dos fenômenos espíritas por parte dos brasileiros, entidades que presidem o destino espiritual da raça resolveram levar adiante a árdua tarefa de lhes dar uma religião que fosse genuinamente brasileira" (Umbanda: religião do Brasil, Ed. Obelisco, 1960, pág. 63, grifo meu). Ou seja, tendo a obra sido publicada em 1960, a ação dessas entidades, com vistas à criação de uma religião genuinamente brasileira, teria ocorrido por volta de 1920. Pois bem. E o que Diamantino Trindade fez? Onde constava "quarenta anos", transcreveu "sessenta anos"... Levando em conta que ele já modificara a data de publicação original da obra para 1968, tirando sessenta anos, chegaríamos no aclamado 1908... Realmente inacreditável a desfaçatez do autor!

sexta-feira, janeiro 29, 2021

Uma citação falsificada por um intelectual de umbanda

Diamantino Coelho Fernandes foi uma das figuras-chave no trabalho de validação da umbanda perante a sociedade. Tendo sido um dos organizadores do Primeiro Congresso Brasileiro de Espiritismo de Umbanda, ocorrido no Rio de Janeiro em 1941, suas duas teses ali apresentadas esbanjam erudição. Certo ponto porém de seu trabalho "O espiritismo de umbanda na evolução dos povos" nos chamou a atenção:
Trouxeram a Umbanda, no recôndito de suas almas atribuladas de escravos, vendidos como mercadoria de feira aos grão-senhores do Brasil, os primeiros sudaneses e bantus que aqui chegaram cerca do ano de 1530, procedentes de Angola, da Costa dos Escravos, do Congo, da Costa do Ouro, do Sudão e de Moçambique (Edison Carneiro, Religiões negras, Civilização Brasileira, 1936).
Isto não consta na obra referenciada! O autor simplesmente falsificou a autoria do trecho para tentar dar credibilidade à informação ali contida. (Edison Carneiro foi um respeitado etnólogo brasileiro.)

Nota: Diamantino Coelho Fernandes já havia se desvinculado da umbanda no fim da década de 1940, tornando-se então um dos propagandistas da obra Vida de Jesus ditada por Ele Mesmo e da "corrente vibratória" Círculo Espiritual do Amor de Jesus, acreditando "cumprir instruções recebidas através de luminoso mensageiro de Jesus". Na década de 1960 começou a publicar títulos como suposto médium de espíritos da envergadura de Maria de Nazareth, por exemplo. Acreditava-se a reencarnação do Apóstolo Thiago. Em fevereiro de 1970, "por determinação do Senhor Jesus" mediado pelo espírito do Apóstolo Thomé, trouxe à Terra a Nova Ordem de Jesus, "instituição espiritualista, beneficente e cultural"...

terça-feira, novembro 03, 2020

Proposta para definição de "umbanda"

Conforme dissemos na postagem anterior (aqui), a Linha Branca de Umbanda, com o tempo, passou a se denominar simplesmente Umbanda. Propomos abaixo uma definição que acreditamos enfeixar suas características nucleares.

Umbanda — Prática religiosa com o objetivo de libertar obsessões e curar moléstias espirituais, realizada nos chamados terreiros1, fundamentada na fé em um deus maior (Zâmbi), em divindades do panteão iorubano2 e em santos católicos, e caracterizada por ritualística própria (defumações, cantos ritmados, etc.), mediunismo ostensivo e manifestações de espíritos arquetipicamente classificados (caboclos, pretos-velhos, crianças, etc., além de, ocasionalmente, exus3).

1 Na umbanda deturpada (vide nota 2) os locais de culto são denominados tendas espíritas ou mesmo centros espíritas, como no kardecismo
2 Já em meados da década de 1910, foi iniciado um movimento que, sob a justificativa de "purificação dos trabalhos de magia nos terreiros", para "expurgar Umbanda do rito essencialmente africanista" (vide pág. 15 do periódico O Semanário de número 91, 2 a 9 de janeiro de 1958), acabou distorcendo-a completamente. Foi desconsiderada a existência das divindades do panteão iorubano (no mínimo cinco delas eram cultuadas: Oxalá, Iemanjá, Xangô, Oxóssi e Ogum) e utilizados seus nomes para "apelidar" ícones do catolicismo (vide, por exemplo, os livros "O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda", Leal de Souza, 1933, e "Umbanda - magia branca e Quimbanda - magia negra", Lourenço Braga, 1942), prática que já era comum em algumas macumbas (vide "O Negro Brasileiro", Arthur Ramos, 1934). Foram também abolidos os atabaques e outros instrumentos de percussão. Para piorar, foi criado o artificalismo das ditas sete linhas (vide aqui), algo completamente estranho à prática religiosa original. (Por incrível que pareça, boa parte, senão a maior, dos terreiros atuais seguem toda essa deturpação)
3 Enquanto alguns autores umbandistas, como Leal de Souza e Lourenço Braga, consideram os exus entidades com individualidade (vide obras citadas), outros, como João de Freitas, têm opinião bastante diversa, considerando que exus não seriam almas ou espíritos, mas frutos da ação do pensamento do médium sobre certos fluidos sutis (vide livro "Exu na Umbanda", 1971)

— Texto modificado em novembro de 2024

quinta-feira, setembro 24, 2020

Linha Branca de Umbanda e Linha Negra de Umbanda

(Edmar Arantes)

Muitos afirmam, como Lourenço Braga em Umbanda (magia branca) e Quimbanda (magia negra), e o próprio título da obra já o diz, que o termo "umbanda" refere-se especificamente a magia branca. Isso não parece ser verdade.

O citado autor diz o seguinte:

"Não devemos dizer 'Linha Branca de Umbanda' e nem 'Linha de Umbanda', no sentido que muita gente emprega quando se refere a Umbanda. Se dissermos 'Linha Branca de Umbanda', compreender-se-á logo que há também 'Linha Negra de Umbanda', isto é, que na Umbanda há magia negra. É um grande erro, tal afirmativa! Umbanda é Magia Branca!" (BRAGA, 1942, p. 24)

Héli Chatelain, notável linguista e estudioso do quimbundo, por outro lado, na nota 180 (p. 268) de sua obra Folk-tales of Angola (1894) diz o seguinte (grifo meu):

"U-mbanda is derived from Ki-mbanda, by prefix u-, as u-ngana is from ngana. Umbanda is: 1) The faculty, science, art, office, business (a) of healing by means of natural medicines (remedies) or supernatural medicines (charms); (b) of divining the unknown by consulting the shades of the deceased or the genii, demons, who are spirits neither humans nor divine; (c) of inducing these human and non-human spirits to influence men and nature for human weal or woe. 2) The forces at work in healing, divining, and the influence of spirits. 3) The objects (charms) which are supposed to establish and determine the connection between the spirits and the physical world." (apud RAMOS, 1934, pp. 88-89, rodapé)

Em uma tradução livre:

"U-mbanda deriva-se de Ki-mbanda pelo prefixo u-, como u-ngana vem de ngana. Umbanda é: 1) a faculdade, ciência, arte, profissão, ofício: a) de curar por meio de medicina natural (remédios) ou de medicina sobrenatural (encantamentos, feitiços); b) de adivinhar o desconhecido pela consulta às almas dos mortos ou aos gênios, demônios, que são espíritos nem humanos nem divinos; c) de induzir estes espíritos, humanos ou não, com vistas a influenciar os homens e a natureza para a cura ou o infortúnio humanos. 2) As forças agindo na cura, adivinhação e influência dos espíritos. 3) Os encantamentos e feitiços que se supõem estabelecer e determinar a ligação entre os espíritos e o mundo físico".

Ou seja, dentro do conjunto de significados de "umbanda" também se encontrava a dita magia negra.

No Brasil, os significados expostos por Héli Chatelain foram de certa forma reunidos. Arthur Ramos afirma que alguns negros e mestiços cariocas utilizavam a expressão Linha de Umbanda para designar certa prática religiosa (RAMOS, 1934, p. 89). Deduzimos, por inferência, que tal prática seria caraterizada pela presença de um "sacerdote" (o pai-de-santo ou chefe de terreiro) que teria o que foi descrito em 1 (o que já inclui a crença em 2 e 3), e numa atitude de devoção e respeito de seus pacientes/consulentes frente aos espíritos, humanos ou não, acessados por ele. Nesta direção, não é de todo desarrazoado falar-se em Linha Branca de Umbanda e em Linha Negra de Umbanda. Aquela seria a Linha de Umbanda em que o pai-de-santo teria 1c restrito para a cura, enquanto a outra seria a Linha de Umbanda sem 1a e com 1c restrito para práticas maléficas, causadoras de infortúnio.

Arthur Ramos afirma que alguns negros e mestiços cariocas utilizavam a expressão Linha de Umbanda para designar certa prática religiosa (RAMOS, 1934, p. 89). Se considerarmos, a par disso, a definição dada por Chatelain, Linha Branca de Umbanda seria a prática religiosa baseada na magia branca, enquanto Linha Negra de Umbanda seria aquela baseada na magia negra.

Nota 1: A partir da década de 1940 tais expressões foram caindo em desuso. Como a própria obra de Lourenço Braga indica, Linha Branca de Umbanda acabou substituída por apenas Umbanda, em clara restrição do significado original da palavra, de conotações mais amplas, e Linha Negra de Umbanda deu espaço à palavra Quimbanda, que acabou se estabelecendo.
Nota 2: Alguns quimbandeiros alegam que na Quimbanda também se praticam curas. Neste caso, a magia branca não seria característica distintiva da Umbanda.

BRAGA, Lourenço. Umbanda (magia branca) e quimbanda (magia negra), Livraria Jacintho, 1942
RAMOS, Arthur. O negro brasileiro, Civilização Brasileira, 1934

sexta-feira, junho 05, 2020

"O espiritismo, a magia e as sete linhas de umbanda" -- versão falsificada

A versão em PDF de "O espiritismo, a magia e as sete linhas de umbanda" (Leal de Souza, 1933) difundida pelos sites Biblioteca Virtual Espírita (bvespirita.com), Casa Espírita São Pedro (www.casaespiritasaopedro.com.br) e Núcleo Mata Verde (mataverde.org) foi adulterada do original. Os seis últimos parágrafos do capítulo III foram simplesmente suprimidos! Desconheço o(a) canalha responsável por isso. Mas a razão é certa: o trecho contém algumas colocações disparatadas... Reproduzo-o abaixo.

"Aprecia-se, em alguns [centros kardecistas], o brilho das assistências elegantes; contentam-se, muitos, com a desataviada modéstia dos pobres; mesclam-se, na maioria, fraternalmente e sem preconceitos, as diferentes classes sociais; em numerosos desses centros, conservam-se reminiscências do catolicismo; avultam os contaminados pela Linha Branca [Negra, pelo contexto] de Umbanda; não faltam núcleos de fanáticos, atirando pedras para todos os lados, e sobram irmandades tolerantes, lançando flores em todas as direções, mas a elevação dos princípios pregados é uniforme nos centros do kardecismo.

À margem dos kardecistas, florescem os centros de transição, fundados sem o objetivo real de sua finalidade, e que servem para facilitar aos egressos de outras religiões a passagem para o espiritismo.

Aparecem depois, no espaço em que as autoridades localizam o que chamam falso espiritismo e o que consideram baixo espiritismo, a macumba, com os seus trabalhos compassados ao ritmo de batuques, tambores e rústicos instrumentos africanos; a feitiçaria, com suas variantes, inclusive a magia negra. Não temos, porém, o Candomblé, talvez originário do Congo e praticado na Bahia, em Alagoas e, possivelmente, em outras regiões do Norte.

O espiritismo de linha compreende, pelo menos, 99 subdivisões, ou linhas, que são as de que eu tenho conhecimento; nem todas, porém, praticadas à beira da Guanabara.

Conta-se, finalmente, a Linha Branca de Umbanda, com as suas sete seções, tornada poderosa, no sentido numérico, pelas necessidades de defesa... da gente ameaçada pelos excessos das linhas da cor oposta à de sua designação.

Em todos os agrupamentos espíritas do Rio de Janeiro, excetuados parcialmente os das linhas ditas negras, a finalidade é a mesma: o aperfeiçoamento da individualidade humana pela prática das leis divinas, mediante a cultura dos sentimentos superiores e o domínio do instinto animal, expressos tais esforços em atos de piedosa solidariedade fraternal."

segunda-feira, junho 01, 2020

As sete linhas de umbanda, um reino de confusão

(Edmar Arantes)

Sob o nome "umbanda" os mais diversos sistemas de cultos religiosos foram e são albergados. Considerando sempre um setenário imaginativo (as ditas "linhas", com nomes e cores características), sem respaldo factual, a encontrar guarida apenas em mentes afeitas a encantos numerológicos (o 7 é sempre muito querido), já os primeiros autores que abordaram doutrinariamente o assunto foram incoerentes entre si. Era de se esperar. Sendo mero exercício de imaginação a qualificação de tais linhas, cada um tratou de exercê-lo a seu modo...

Aqui, neste texto, exporemos as classificações descritas por quatro autores que fizeram escola nas décadas de 30, 40, 50 e 60 do século passado: Leal de Souza, Lourenço Braga, Yokaanam e W. W. da Matta e Silva.

Leal de Souza

Tornou-se umbandista por suas visitas à Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, localizada em Neves (bairro de São Gonçalo fronteiriço com Niterói/RJ) e então dirigida por Zélio de Moraes, considerado por alguns desavisados o "fundador da Umbanda" (vale perguntar: qual delas?). Simpatizou com a religião. Já então médium e dirigente espiritual (portanto, "entendido" do assunto), foi o primeiro autor a abordar em livro a doutrina umbandista, publicando a obra O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda em 1933, compilação de suas matérias no Diário de Notícias no ano anterior, nas quais dissertava sobre os assuntos mencionados no título do livro.

Logo no início da obra, o autor faz a seguinte afirmação disparatada: "O espiritismo de linha compreende, pelo menos, 99 subdivisões, ou linhas" (p. 12)... Carecia perguntar: É mesmo?! E tu constatou isso como? Rir pra não chorar.

No cap. XVIII, de Souza diz que a Linha Branca de Umbanda compreendia sete linhas (!), uma delas transversa (!!), que faria ligação com a Linha Negra... Lourenço Braga, autor que abordaremos em sequência, em sua obra Umbanda (magia branca) e Quimbanda (magia negra) fez a seguinte pertinente consideração quanto a isso:

Se chamarmos a Lei de Umbanda de Linha de Umbanda, que nome então daremos às sete linhas em que a Umbanda se divide, tais como sejam: Linha de Xangô, Linha de Ogum, Linha de Iemanjá, etc.? (pp. 24-25)

As sete divisões da "Linha Branca de Umbanda", segundo Leal de Souza, seriam as seguintes:
1- Linha de Oxalá, Nosso Senhor do Bonfim (Jesus Cristo). Cor característica: branco
2- Linha de Ogum, São Jorge. Cor característica: vermelho
3- Linha de Euxoce (Oxóssi), São Sebastião. Cor característica: verde
4- Linha de Xangô, São Jerônimo. Cor característica: roxo
5- Linha de Nha-San (Iansã), Santa Bárbara. Cor característica: amarelo
6- Linha de Amanjar (Iemanjá), N. Sra. da Conceição (Virgem Maria). Cor característica: azul
7- Linha de Santo ou das Almas, que não teria entidade católica como dirigente nem cor característica, sendo uma linha "transversa", que faria ligação com a Linha Negra

Já não bastasse o "apelidamento" de santos católicos com nomes de orixás africanos, o que de Souza "explica" dizendo que se trata dos nomes de tais santos na "língua de umbanda" (?!), no cap. XXI da obra ele vai além no disparate, referindo-se a orixás não como os chefes das linhas, mas como os vinte e um subordinados diretos de cada um deles... (nota de 09/06/2021)

Lourenço Braga

Publica em 1942, pela Livraria Jacintho, Umbanda (magia branca) e Quimbanda (magia negra). Sem citar nomes, faz uma explícita crítica à divisão de Leal de Souza:

(...) Não confundam a "Linha de Oxalá ou de Santo", de Umbanda, com a "Linha das Almas", que é da Quimbanda. A Linha das Almas é chefiada por Umulum, dono dos cemitérios! E Inhaçã não é linha, é uma "legião" pertencente à Linha de Xangô! (p. 35)

É curioso, no entanto, que, apesar de ter ressaltado no trecho acima transcrito que "Inhaçã" não é linha (Braga usa também a palavra "povo" como sinônimo), na p. 62 ele considera, sim, Inhaçã como linha, ressaltando ainda que a oferenda para este povo seria vinho fino, enquanto que para o de Xangô seria cerveja preta...

Segundo Braga, a "Lei de Umbanda" se dividiria nas seguintes linhas:
1- Linha de Santo ou de Oxalá, dirigida por Jesus Cristo
2- Linha de Iamanjá (Iemanjá), dirigida pela Virgem Maria
3- Linha do Oriente, dirigida por São João Batista
4- Linha de Oxoce (Oxóssi), dirigida por São Sebastião
5- Linha de Xangô, dirigida por São Jerônimo
6- Linha de Ogum, dirigida por São Jorge
7- Linha Africana, dirigida por São Cipriano

É de se notar que o autor não esclareceu a qual "São Cipriano" ele se referia (há quatro). Este ponto foi também observado por Matta e Silva em sua obra Umbanda de Todos Nós (ver pp. 101-102 da 3a. edição, de 1969).

Braga inova ao propor que cada uma destas 7 linhas seria também dividida em sete, totalizando assim 49 "legiões", o mesmo acontecendo para as 7 linhas da "Lei de Quimbanda". Nomeando as 7 linhas da "Lei de Umbanda", suas legiões, as 7 linhas da "Lei de Quimbanda" e ainda fornecendo nomes de vários "exus", o autor chega a cerca de 100 denominações! Haja imaginação...

Mais tarde, em 1956, publica, pela Editôra Souza, Umbanda e Quimbanda - volume 2, mudando o nome das linhas e de seus dirigentes. Dando outra direção ao seu viés imaginativo, redenomina a Linha de Santo ou de Oxalá para "Linha de Oxalá ou das Almas" (em sua versão anterior ele havia frisado que a Linha das Almas era da Quimbanda), muda os dirigentes das linhas de Iemanjá, do Oriente, de Oxóssi, de Xangô e de Ogum, que na "realidade" seriam dirigidas, respectivamente, pelos arcanjos Gabriel, Rafael, Zadiel, Orifiel e Samael, e substitui a Linha Africana pela "Linha dos Mistérios ou Encantamentos", que seria dirigida pelo arcanjo Anael. (Vide História da Umbanda, Alexandre Cumino, Ed. Madras, 2010, pp. 374-375.) Poderíamos dizer: esse não bate bem, não!

Yokaanam

Em 1952 publica Evangelho de Umbanda. Nesta obra as sete linhas são apresentadas da seguinte maneira:
1- Linha de S. João Batista (Xangô-Kaô, ou Xangô Maior). Cor característica: rosa
2- Linha de Sta. Catarina de Alexandria (Yanci). Cor característica: azul
3- Linha de Custódio (anjo), "diretor" de Cosme e Damião (Ibejês). Cor característica: branco
4- Linha de S. Sebastião (Oxoce). Cor característica: verde
5- Linha de S. Jorge (Ogum). Cor característica: vermelho escarlate
6- Linha de S. Jerônimo (Xangô). Cor característica: roxo-violeta
7- Linha de S. Lázaro (Ogum de Lei). Cor característica: amarelo

O primeiro ponto que nos salta à vista é a colocação de um anjo na mesma classe de santos católicos. Outro ponto é a utilização de "espécies" na mesma classe de "gêneros". Assim, Xangô-Kaô (um dos tipos de Xangô) estaria nivelado com o próprio Xangô, e Ogum de Lei (um dos tipos de Ogum) com o próprio Ogum. Absoluta falta de sistemática. Matta e Silva, autor que abordaremos em sequência, comentaria sobre isso em sua obra Umbanda de Todos Nós:

Esta é uma das concepções correntes mais chocantes, porque nota-se a completa falta de conhecimentos de base sobre Lei de Umbanda e fere nossa lógica, quando vemos seis Santos em paralelo com um anjo ou arcanjo, dirigindo as legiões, grupos ou linhas... Dizemos chocante ainda, porque assim como arranjaram o anjo Custódio que, pela hierarquia conhecida, em sua condição, deve estar acima dos Santos, substituíram também N. S. da Conceição (uma das concepções da Virgem Maria, que dizem ser Yemanjá), por Santa Catarina de Alexandria (Yanci), que asseveram atualmente estar no comando (desde quando? Como se passou este fato transcendental de que os outros mortais de fé não tiveram conhecimento até hoje?). E, para finalizar os "considerando" sobre esta concepção, verificamos mais que repartiram a direção da Linha de Ogum para dois Santos (S. Jorge e S. Lázaro): o primeiro é Ogum de Lei e o segundo, simplesmente Ogum... Nesta mágica, estão S. Jerônimo que é Xangô apenas ou Deus que habita os mistérios e S. João Batista, que é Xangô também, mas Kaô ou ainda Xangô Maior (p. 104 da 3a. edição, de 1969)

Concluindo com uma sensata consideração:

Cremos ser impossível penetrar no complexo da criatura que engendrou semelhantes legiões que, por certo, irá ainda mais confundir ou embaralhar esta Umbanda de todos nós, ainda tão incompreendida, perseguida e detratada! E quem, inteirando-se de mais este sincretismo, não terá um sorriso de ironia e de descrença? (p. 105)

Como bom codificador da religião, Yokaanam não poderia deixar de turbinar sua viagem imaginativa. Assim, para ele, "Umbanda" seria proveniente de "Um" (Deus) + "banda" (legião, exército). Legal demais, não?!

W. W. da Matta e Silva

Publica em 1956 Umbanda de Todos Nós, obra que fez grande sucesso, cuja 2a. edição, bastante aumentada, foi publicada em 1960 pela Livraria Freitas Bastos (sobre esta livraria-editora, vide aqui). O autor dissocia os termos "Oxalá", "Iemanjá", "Xangô", "Ogum" e "Oxóssi" (nomes de orixás africanos) de figuras do hagiológio católico1, dizendo que, na realidade, tais termos, juntamente com Yori e Yorimá, designariam as sete "Vibrações Originais" (p. 59 da 3a. edição, de 1969), emanadas pelos sete "Espíritos de Deus" (p. 56 da mesma edição), e reconceitua orixá como sendo qualquer dos espíritos dentre os chefes de legiões, de falanges e de subfalanges em cada linha (pp. 88 e 209)...

Propõe a seguinte classificação para as linhas da "Lei de Umbanda":
1- Linha de Oxalá, o Princípio, o Incriado, o Reflexo de Deus. Cores características: branco e amarelo-ouro
2- Linha de Yemanjá, a Divina Mãe, o Eterno Feminino, a Divindade da Fecundação. Cores características: amarelo e prateado
3- Linha de Xangô, o Ser Existente, o Dirigente das Almas, o Senhor da Balança. Cor característica: verde
4- Linha de Ogum, o Fogo da Salvação ou da Glória. Cor característica: alaranjado
5- Linha de Oxosi, a Ação Envolvente ou Circular dos Viventes da Terra. Cor característica: azul
6- Linha de Yori, a Potência em Ação da Luz Reinante. Cor característica: vermelho
7- Linha de Yorimá, a Potência da Palavra da Lei. Cor característica: violeta

Bem se vê que o autor não estava de brincadeira em seu exercício imaginativo... E não é só! Seguindo os devaneios numerológicos e nominais de Lourenço Braga, também afirma que cada uma destas 7 linhas seria dividida em sete, totalizando 49 legiões, o mesmo ocorrendo quanto às 7 linhas da Quimbanda. Nomeando tudo isso, Matta e Silva chega a mais de 100 denominações, só que com muitos nomes diferentes daqueles utilizados pelo autor de Umbanda (magia branca) e Quimbanda (magia negra)... Você, leitor, ficaria com qual conjunto de nomes? É questão de gosto, pois de realidade não há nem sinal.

No quesito imaginação, Matta e Silva superou a grande maioria dos autores umbandistas que o antecederam (perde talvez para Aluizio Fontenelle) e todos que o sucederam. Tudo feito de forma muito sistemática. Pois bem. Não bastasse o que já mostramos em uma postagem anterior deste mesmo blog2 e o que expusemos acima, há mais... Para o autor, "Umbanda" seria um termo "místico, litúrgico, sagrado, vibrado, cuja origem se encontra naquele alfabeto primitivo que os próprios Bhramas desconheciam a essência" (p. 31 da 3a. edição de Umbanda de Todos Nós), o mesmo se aplicando aos nomes das linhas (p. 60); "Umbanda" significaria conjunto das leis de Deus, uma vez que proviria de "Um" (Deus) + "ban" (conjunto) + "da" (lei) (p. 38); e por aí vai... Mas paremos por aqui.

_________________________
1- Antes dele, Oliveira Magno já havia feito o mesmo (vide Umbanda esotérica e iniciática, 1950). Este autor, entretanto, cometeu erro histórico ao afirmar que os nomes Oxalá, Xangô, etc. seriam provenientes de um "setenário nagô", algo que nunca existiu.
2- https://jedarib.blogspot.com/2018/10/as-viagens-de-matta-e-silva.html

terça-feira, outubro 30, 2018

As "viagens" de Matta e Silva

(Edmar Arantes)

A primeira vez que ouvi falar sobre o escritor umbandista W. W. da Matta e Silva (1917-1988) foi através do extinto site Aumbhandam (aumbhandam.org.br), lá pelos idos de 2003. Anos depois, creio que em meados de 2008, lendo rasgados elogios do Marcelo Del Debbio ao "mestre", renovado interesse em conhecer a doutrina de Matta e Silva invadiu-me. Mas só fui travar contato direto com uma obra dele no início de 2013, quando então adquiri a 3a. edição (a definitiva, de 1969) de seu aclamado livro "Umbanda de todos nós".

Que decepção!...

Logo na apresentação da obra já observamos vislumbres dos despautérios que se seguiriam.

Por exemplo, pondo-se acima do Bem e do Mal, e colocando o que ele chama de Umbanda (ou Lei de Umbanda) como o non plus ultra em termos religiosos, Matta e Silva faz afirmações verdadeiramente lunáticas, impossíveis de serem checadas:

... os cultos africanos e suas práticas, ... há vários séculos, na própria África, perderam contato com sua "fonte original", ... que sempre se chamou UMBANDA (p. 7)

Verdadeiramente, do Seio da Religião Original, isto é, desta Lei que se identifica como de UMBANDA, é que nasceram todas as demais expressões religiosas (p. 14)

Porque UMBANDA é, em realidade, Lei, Expressão e Regra da chamada “Palavra Perdida” ... (p. 15)

Por fim, já no final da Apresentação, fazendo ligeiras referências à lendária Agartha, afirma:

... este vocábulo – UMBANDA – vem do “alfabeto divino” existente neste mesmo centro chamado Agartha (p. 16)

Só poderíamos terminar como os portugueses: DURMA-SE COM UM BARULHO DESSES!

(Pretendo continuar com este assunto em novas postagens)

sábado, dezembro 26, 2015

José Ribeiro, "o novo rei do candomblé"

Pouco há na internet sobre José Ribeiro de Souza, mais conhecido apenas como José Ribeiro, falecido babalorixá, escritor, professor de línguas sudanesas e intérprete e compositor de músicas folclóricas e afro-brasileiras. Em pesquisa realizada em março de 2013 nas fichas do Catálogo de Livros da Biblioteca Nacional, descobri que nascera em 1930. Em outra pesquisa realizada nessa época, encontrei também que José Ribeiro teria sido filho (de santo) de Joãozinho da Gomeia, "o rei do candomblé", e que, após a morte deste, em março de 1971, teria tomado para si o título, passando a se denominar "o novo rei do candomblé". Esta denominação encontra-se registrada, por exemplo, em seu LP "No reino de Angola", lançado naquele ano.

Publicou seus livros principalmente pelas editoras Espiritualista e Eco (vide um post sobre elas aqui).

Na edição de 16/01/1975 do jornal Correio Braziliense, saiu uma matéria sobre José Ribeiro:
Apesar de se falar na matéria em 25 livros publicados por ele até jan/1975, encontramos apenas 23 obras publicadas por José Ribeiro até tal data, conforme a seguir:
1) Candomblé no Brasil (Espiritualista, 2a. ed., 1957)
2) Orixás africanos (Espiritualista, 1961)
3) Comida de santo e oferendas (Folha Carioca, 1962)
4) 400 pontos riscados e cantados na umbanda e candomblé (Folha Carioca, 1962)
5) Dicionário africano de umbanda (Aurora, 1963)
6) O jogo dos búzios (Aurora, 1963)
7) Amalás (Espiritualista, 2a. ed., 1969)
8) Omulu - o senhor do cemitério (Espiritualista, 1969)
9) Pontos cantados nos candomblés (Espiritualista, 1969)
10) O ritual africano e seus mistérios (Espiritualista, 1969)
11) As festas dos eguns (Eco, 1969?)
12) O poder das ervas na umbanda (Eco, 1969?)
13) Cerimônias da umbanda e do candomblé (Eco, 1969?)
14) Oxalá - o médium supremo (Espiritualista, 1970)
15) Pomba Gira - mirongueira (Espiritualista, 1970)
16) Brasil no folclore (Aurora, 1970)
17) Magia africana (Espiritualista, 1972)
18) Culto malê (Espiritualista, 1973)
19) Tranca Ruas das Almas, com Decelso (Eco, 1974)
20) Catimbó de Zé Pilintra (Espiritualista, 1974)
21) No reino de Angola (Espiritualista, s/d)
22) Tambores d'África (Espiritualista, s/d)
23) Mirongas de preto velho (Espiritualista, s/d)

Mais tarde, José Ribeiro lançaria ao menos 5 títulos pela editora Pallas: "Eu, Maria Padilha" (1977), "Magia do candomblé" (1985), "Mágico mundo dos orixás" (1988), "O jogo de búzios e as cerimônias esotéricas dos cultos afro-brasileiros" (1990) e "Catimbó - magia do Nordeste" (1991).

Nota: este post foi atualizado em nov/2023.

domingo, março 10, 2013

As primeiras editoras de livros de umbanda

(Edmar Arantes)

Dando de certa forma continuidade à postagem anterior, em que tratamos dos primeiros livros umbandistas, iremos nesta fornecer alguns lances a respeito das primeiras editoras que passaram a publicar regularmente títulos de umbanda, que foi o assunto que de fato nos levou à pesquisa ali apresentada.

Até o fim da década de 40 não havia ainda editora que publicasse regularmente tais títulos. Os que tinham sido lançados até então se enquadravam em três classes: publicações independentes, lançadas à custa do autor ou da tenda ou entidade à qual ele estivesse filiado; lançamentos pelo selo "Biblioteca Espiritualista Brasileira", e umas poucas exceções lançadas de fato por editoras (como a 3a. ed. de "Umbanda", obra de João de Freitas, e a 1a. ed. de "Trabalhos de Umbanda, ou Magia Prática", de Lourenço Braga, títulos lançados pela tradicional Editôra Moderna, do Rio de Janeiro). Foi somente em 1950 que uma empresa editorial resolveu abrir suas portas para autores de livros sobre umbanda e publicar regularmente títulos da área. Falamos da Gráfica Editôra Aurora Ltda., então dirigida por Ernesto Mandarino e localizada à Rua Vinte de Abril, 16, Rio de Janeiro. O primeiro autor do ramo ali publicado foi, ao que tudo indica, Oliveira Magno.

É curioso observar que, talvez pelo preconceito ainda existente àquela época para com tais títulos, até 1953 raramente o nome da editora aparecia na capa dos livros, e só vamos descobrir que a Gráf. Ed. Aurora, além de ter impresso os livros, também atuou como editora, através da leitura dos prefácios ou "post-fácios" destes.

Em 1954, a Aurora lançou a Coleção Espiritualista, que seria, quase toda, constituída de livros umbandistas. Vejamos a listagem dos livros desta coleção até seu número 19:

1 - "A Umbanda e seus Complexos" (Oliveira Magno, 3a. ed., 1954)
2 - "Magia Prática Sexual" (Oliveira Magno, 2a. ed., 1954)
3 - "Umbanda" (Florisbela M. de Sousa Franco, 2a. ed., 1954)
4 - "As Mirongas de Umbanda" (Byron Tôrres de Freitas e Tancredo da Silva Pinto, 1954)
5 - "Lições de Umbanda" (Samuel Pönze, 1954)
6 - "Práticas de Umbanda" (Oliveira Magno, 3a. ed., 1954)
7 - "Doutrina e Ritual de Umbanda" (Byron Tôrres de Freitas e Tancredo da Silva Pinto, 2a. ed., 1954)
8 - "Utilidades Astrológicas" (Oliveira Magno, 1954)
9 - "Lex Umbanda" (Ab'd 'Ruanda, 1954)
10 - "O Espiritismo no Conceito das Religiões e a Lei de Umbanda" (Aluizio Fontenelle, 2a. ed., 1954)
11 - "Banhos e Defumações na Umbanda" (Ab'd 'Ruanda, 1954)
12 - "Alquimia de Umbanda" (Silvio Pereira Maciel, 3a. ed. [1], ?)
13 - "Umbanda e Ocultismo" (Oliveira Magno, 2a. ed., ?)
14 - "Ritual Prático de Umbanda" (Oliveira Magno, 2a. ed., 1956)
15 - "A Umbanda Esotérica e Iniciática" (Oliveira Magno, 3a. ed., 1956)
16 - "Fôrças ocultas, luz e caridade" (J. Dias Sobrinho, 3a. ed., 1956)
17 - "Umbanda Mista" (Sylvio Pereira Maciel, 2a. ed., 1957)
18 - "Umbandismo" (Antônio Alves Teixeira "Neto", 1957)
19 - "Camba de Umbanda" (Byron Tôrres de Freitas e Tancredo da Silva Pinto, 1957)

Curiosamente, o n. 20 desta coleção ("A Umbanda Através dos Séculos", de Aluízio Fontenelle, 2a. ed., 1957) seria publicado por outra editora, a nascente Editôra Espiritualista Ltda., localizada à Rua Frei Caneca, 19, Rio de Janeiro, assim como pelo menos outros três: os números 24 ("Candomblé no Brasil", de José Ribeiro, 2a. ed., 1957), 25 ("Codificação da Lei de Umbanda - Parte científica e Parte prática", de Emanuel Zespo, 2a. ed., 1960) e 26 ("Umbanda para os médiuns", de Florisbela Maria de Souza, 1960) [2], o que mostra que a Ed. Espiritualista mantinha íntimas relações empresariais com a Gráf. Ed. Aurora. Além disso, a partir de 1958 a Ed. Espiritualista passou a republicar títulos da Coleção Espiritualista antes publicados pela Aurora, assim como algumas obras maçônicas e outras tidas como de ciências ocultas antes publicadas por essa editora ("A maçonaria e a grandeza do Brasil", "A mão e seus segredos", "Um pouco de astrologia", etc.). Em contrapartida, a Gráf. Ed. Aurora republicou pelo menos um título já editado pela Espiritualista: "A Umbanda Através dos Séculos", 3a. ed. [3], 1963. É interessante constatar também que este foi o último ano em que livros umbandistas saíram pela Aurora, assim como o último ano da gráfica-editora no endereço citado no início deste texto. A partir de 1964, curiosamente, a Gráf. Ed. Aurora passou a se localizar no mesmíssimo endereço da Ed. Espiritualista (farei uma ilação sobre isso ao fim deste texto). Esta última, a partir desse mesmo ano (e até o término de suas atividades [4]), seguiu com praticamente uma única concorrente no mercado editorial de livros umbandistas, sobre a qual falaremos a seguir.

Foi em 1963 que apareceram os primeiros títulos do selo Editôra Eco [5]. Fundada por Ernesto Emanuele Mandarino, que supomos ser filho do outro, desde o seu início publicou títulos de umbanda, principal segmento da editora. Inicialmente localizada à Rua do Senado, 320 - Conj. 407 - Rio de Janeiro, GB, em meados de 1966, já como nome-fantasia da Livraria Editôra Mandarino Ltda. para a publicação de títulos de umbanda e candomblé, vamos encontrá-la na Rua Marquês de Pombal, 172 - sobreloja 1 - Rio de Janeiro, GB.

A livraria-editora possuía filial no número 171-B da rua citada, conforme pode-se constatar das informações editoriais da obra "Os orixás e o candomblé", de 1967. Em 1970 o logo da editora foi modificado e seu endereço principal passou a ser aquele onde antes era o da filial, R. Marquês de Pombal, 171-B, Rio de Janeiro (compare-se frontispício da obra "Despachos e oferendas na umbanda", de 1969, com página de dados editoriais de "O que é a umbanda", obra de 1970). Em 1973, porém, o endereço da matriz volta a ser R. Marquês de Pombal, 172, Rio de Janeiro, conforme podemos observar da 2a. ed. de "O livro (completo) do feiticeiro Athanásio" e da 3a. ed. de "Pomba-Gira". Mais tarde, a livraria-editora passa a se chamar apenas Editora Mandarino Ltda., com os endereços mantidos (matriz no número 172, sblj., e filial no 171-B), e isso até pelo menos 1990, conforme pode ser visto aqui. A editora foi baixada em 31/12/2008 por inaptidão [6]. (Trecho modificado nos dias 27/05/2020 e 01/06/2021)

Sobre a "coincidência" entre o fim da publicação de títulos umbandistas pelo selo Aurora, a mudança de endereço da Gráf. Ed. Aurora para o da Ed. Espiritualista e o início das atividades da Ed. Eco, tudo ocorrido em meados de 1963, a ilação que faço é que, tendo falecido naquele ano Ernesto Mandarino, então diretor da Gráf. Ed. Aurora, esta fora comprada pela Ed. Espiritualista, passando a funcionar em seu endereço. (A marca Aurora ficou restrita a livros não espiritualistas.) Além disso, dando de certa forma continuidade ao trabalho de Ernesto Mandarino, seu filho Ernesto E. Mandarino fundou a Ed. Eco, como já dito.

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1- Esta edição constou erroneamente como 2a. na capa da obra, mas a 2a. ed. verdadeira é de 1951.
2- Os números 21 ("Exu", de Aluízio Fontenelle, 3a. ed., 1957) e 28 ("Do batuque e das origens da Umbanda", de Leopoldo Bettiol, 1963) foram publicados pela Gráf. Ed. Aurora.
3- A edição seguinte desta obra (4a., de 1971) foi publicada novamente pela Ed. Espiritualista.
4- Conforme pode ser constatado aqui, em 1998 ainda reeditava livros, mas a publicação de títulos exclusivamente umbandistas pela editora cessou em meados da década de 80 ou no início da década de 90. (Nota de 25.10.15)
5- Então Edições Eco. O nome Editôra Eco apareceria somente no ano seguinte, 1964.
6- Conforme http://empresasdobrasil.com/empresa/editora-mandarino-ltda-34026245000100 (nota: há erro na fornecida data do registro da empresa, 02/06/1972, pois em 1967 ela já funcionava). Curiosidades: (1) após "Sonata Cósmica", livro publicado em 1995 onde aparece o endereço R. Marquês de Pombal, 171-B (não 172), não constou qualquer forma de contato para com a editora em suas publicações; (2) 1998 foi o último ano que a Eco lançou livros novos (a partir de 1999 todas as suas publicações foram reedições); (3) continuaram saindo livros sob o selo "Editora Eco" mesmo após a Ed. Mandarino Ltda. ter sido baixada.

domingo, fevereiro 10, 2013

Os primeiros livros umbandistas

(Edmar Arantes)

Não sendo umbandista, mas interessado em saber as primeiras editoras que abriram suas portas a títulos da área, iniciei em fins de março de 2011 um levantamento sobre antigos livros de umbanda. No início de abril do mesmo ano, tendo adquirido História da Umbanda -- uma religião brasileira, livro de Alexandre Cumino publicado pela Ed. Madras em 2010 (doravante "Cumino, 2010"), e folheando algumas de suas páginas, notei que a grande maioria dos livros levantados já se encontrava citada ali, apesar de discrepâncias nas datas de publicação original de algumas obras, o que será explicitado adiante. No fim daquele mesmo mês de abril, ainda adquiri A Construção Histórica da Literatura Umbandista, livro de Diamantino Trindade publicado pela Ed. do Conhecimento em 2010 (doravante "Trindade, 2010"), que, sobre os primeiros anos da literatura umbandista, não trouxe nenhum novo autor além daqueles citados por Cumino. Depois disso, praticamente esqueci o assunto, e deixei o levantamento arquivado em meu computador pessoal. Fim do mês passado (jan/2013), entretanto, meu interesse foi novamente despertado para a questão, e continuei então o trabalho interrompido em abril de 2011, "finalizando-o" há alguns poucos dias (as aspas são propositais, pois trabalhos deste tipo nunca estão de fato fechados), e estou agora a apresentá-lo para os leitores que aqui aportarem.

Como ficará claro da listagem que será apresentada, diferentemente do que foi afirmado por [Trindade, 2010, p. 42], após o "Primeiro Congresso do Espiritismo de Umbanda" (1941) a publicação de títulos umbandistas seguiu de forma acanhada, e somente a partir do início da década de 50 houve de fato uma "rápida proliferação de livros de escritores umbandistas".

A apresentação dos livros a seguir será dividida em 3 partes: "Os primeiros títulos (1925-1941)", "De 1942 a 1949" e "De 1950 a 1955". Consideramos como elemento divisor das duas primeiras partes o já referido "Primeiro Congresso do Espiritismo de Umbanda", ocorrido no Rio de Janeiro em outubro de 1941. Já a separação entre os dois últimos períodos foi considerada levando-se em conta o ano (1950) em que foi iniciada a publicação de títulos dedicados exclusivamente à apresentação de uma umbanda esotérica e iniciática, devidos ao escritor Oliveira Magno. E consideramos 1955 como o fim do terceiro período porque em 1956(1) temos um verdadeiro divisor de águas no que diz respeito à literatura umbandista: o livro Umbanda de Todos Nós, de W. W. da Matta e Silva. A obra, publicada a expensas do autor naquele ano, foi uma verdadeira revolução no mundo literário umbandista.

Na listagem abaixo, dentro de um mesmo ano de publicação a sequência apresentada seguirá pela ordem alfabética do primeiro substantivo aparecido nos títulos, afora casos em que conhecemos a ordem cronológica real.

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Os primeiros títulos (1925-1941)

No Mundo dos Espíritos. LEAL DE SOUZA, Rio de Janeiro: Officinas Graphicas de "A Noite" (impressor), 1925. (Coletânea de artigos publicados pelo autor no jornal "A Noite" em 1924.) --- Nota: esta obra só foi aqui inserida por ter sido a primeira que se tem notícia que registrou o termo "umbanda", mas ela não é propriamente um livro umbandista.

O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda. LEAL DE SOUZA, Rio de Janeiro: Officinas Graphicas do Liceu de Artes e Oficios (impressor), 1933. (Compilação de crônicas publicadas no jornal "Diário de Notícias" em 1932.)

A Magia no Brasil. WALDEMAR L. BENTO, Rio de Janeiro: Oficinas Graficas do Jornal do Brasil (impressor), 1939.

Catecismo Espiritualista da Linha Branca de Umbanda. A. G. ANSELMO, Rio de Janeiro: Oficinas Graficas do Jornal do Commercio (impressor), 1940.

Umbanda em revista -- reportagens, entrevistas, commentarios. JOÃO DE FREITAS, [Rio de Janeiro]: s.ed.(2), 1941(3). --- Nota: em sua 2a. ed., publicada em 1942, e ainda de maneira independente, esta obra passou a se chamar Umbanda -- rituais, reportagens, entrevistas, comentários, etc. Já em sua 3a. ed., que não apresentou ano de saída, o livro foi publicado pela tradicional Editôra Moderna.

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De 1942 a 1949 (*)

Primeiro Congresso do Espiritismo de Umbanda. VÁRIOS AUTORES. Rio de Janeiro: Oficinas Graficas do Jornal do Commercio (impressor), 1942. (Anais do Primeiro Congresso do Espiritismo de Umbanda, ocorrido em outubro de 1941 no Rio de Janeiro.)

Umbanda (Magia Branca) e Quimbanda (Magia Negra). LOURENÇO BRAGA, Rio [de Janeiro]: Livraria Jacintho(4) (distribuidor), 1942. (Trabalho dito apresentado no Primeiro Congresso do Espiritismo de Umbanda mas não publicado na obra acima referida.)

O culto de Umbanda em face da Lei. Biblioteca Espiritualista de Umbanda. Rio de Janeiro: União Espiritualista Umbanda de Jesus -- UEUJ, 1944.

Os Mistérios da Magia (romance). LOURENÇO BRAGA, Rio de Janeiro: Asa Artes Gráficas (impressor), 1945(5).

Coleção Afro-Brasileira (Urubatão, deus da guerra; Aimoré, deus da caça; Iára, deusa do mar; Caramuru, deus do trovão -- livretes de 32 páginas cada). HERALDO MENESES, [Rio de Janeiro]: s. ed., 1946. --- Nota: mais tarde esta coleção foi republicada em volume único sob o título Caboclos na Umbanda.

Primeiras revelações de Umbanda. ORDEM DOS CAVALEIROS DA GRAN CRUZ, Escola Técnica de Curitiba (impressor), 1946.

Trabalhos de umbanda; ou, Magia Prática. LOURENÇO BRAGA, Rio de Janeiro: Editôra Moderna, 1946(6).

O que é a Umbanda?(7,8). EMANUEL ZESPO (pseudônimo de Paulo Menezes), [Rio Grande?]: s. ed., 1946.

Ritual de Umbanda. BENEDITO RAMOS DA SILVA, Rio de Janeiro, 1948.

Alquimia de Umbanda. SYLVIO PEREIRA MACIEL. Pôrto Alegre: Editôra Coruja, 1949(9). (Livro deslocado para esta fase em 27/05/2021 por termos encontrado uma edição mais antiga do que a que pensávamos ser a original.)

Umbanda. Biblioteca Espiritualista Brasileira. FLORISBELA MARIA DE SOUZA FRANCO, Rio de Janeiro: Oficinas Graficas do Jornal do Commercio (impressor), 1949(10).

(*) As obras Pai José (romance) e Lei de Umbanda (romance), de EMANUEL ZESPO, também publicadas neste período, não foram alocadas acima por não termos conseguido encontrar o ano de seus lançamentos. ~ O compilador.

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De 1950 a 1955

Fôrças ocultas, luz e caridade. J. DIAS SOBRINHO, Rio de Janeiro: s.ed., 1950(11).

A Umbanda e seus complexos. OLIVEIRA MAGNO, Rio de Janeiro: s.ed., 1950.  --- Nota: a 3a. edição desta obra, publicada pela Gráf. Ed. Aurora em 1954, inaugurou a Coleção Espiritualista, lançada pela referida editora.

A Umbanda esotérica e iniciática. OLIVEIRA MAGNO, Rio de Janeiro: s.ed.(12), 1950.

Codificação da Lei de Umbanda (Parte científica). EMANUEL ZESPO, Rio de Janeiro: Gráf. Ed. Aurora, 1951(13).

Doutrina e Ritual de Umbanda. BYRON TORRES DE FREITAS & TANCREDO DA SILVA PINTO. Rio de Janeiro: s.ed.(14)1951.

O Espiritismo no conceito das religiões e a Lei de Umbanda. ALUIZIO FONTENELLE, Rio de Janeiro: Gráf. Ed. Aurora, 1951.

Pratica de Umbanda. OLIVEIRA MAGNO, Rio de Janeiro: [Gráf. Ed. Aurora?], [1951?]. --- Nota: em sua 3a. ed., de 1954, este livro foi reeditado como Práticas de Umbanda e entrou como vol. 6 na Coleção Espiritualista, já mencionada acima.

Umbanda mista. SYLVIO PEREIRA MACIEL, Rio de Janeiro: s.ed.(15), 1951.

Evangelho de Umbanda: escrituras. O solitário da Academia Eclética Exotérica (YOKAANAM). Rio de Janeiro: Fraternidade Eclética Espiritualista Universal (FEEU), 1952(16).

Exu. ALUIZIO FONTENELLE, Rio de Janeiro: s.ed.(17), 1952(18).

A Umbanda através dos séculos (póstumo). ALUIZIO FONTENELLE, Rio de Janeiro: Organização Simões(19), 1953(20).

Umbanda e Ocultismo. OLIVEIRA MAGNO, Rio de Janeiro: Gráf. Ed. Aurora(21)1953(22).

Codificação da Lei de Umbanda (Parte prática). EMANUEL ZESPO, Rio de Janeiro: Gráf. Ed. Aurora, 1953.

O Esoterismo de Umbanda, OSÓRIO CRUZ, Rio de Janeiro: s.ed., 1953.

A Nova Lei Espírita: Jesus, a Chave de Umbanda. MARIA TOLEDO PALMER, Rio de Janeiro: s.ed., 1953.

Ritual Prático de Umbanda. OLIVEIRA MAGNO, Rio de Janeiro: Gráf. Ed. Aurora, 1953.

Umbanda e Pais-de-Santo. CÉSAR CÂNDIDO DE LEMOS, Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, 1953.

Umbanda e seus Cânticos. JOÃO SEVERINO RAMOS, Rio de Janeiro: Tenda Espírita São Jorge, 1953.

Umbanda Sagrada e Divina. PAULO GOMES DE OLIVEIRA, Rio de Janeiro: Ed. Aurora, [1953?].

As Mirongas de Umbanda. Coleção Espiritualista n. 4. BYRON TORRES DE FREITAS & TANCREDO DA SILVA PINTO, Rio de Janeiro: Gráf. Ed. Aurora, 1954(23).

Lições de Umbanda. Coleção Espiritualista n. 5. SAMUEL PÖNZE, Rio de Janeiro: Gráf. Ed. Aurora(24), 1954.

Lex Umbanda (Catecismo). Coleção Espiritualista n. 9. AB'D 'RUANDA, Rio de Janeiro: Gráf. Ed. Aurora, 1954. --- Nota: até sua 3a. ed., já publicada pela Ed. Espiritualista, esta obra permaneceu com o nome referido, mas em alguns exemplares dessa mesma edição, e nas edições seguintes, passou a ter como título Catecismo de Umbanda (Lex Umbanda).

Banhos e defumações na Umbanda. Coleção Espiritualista n. 11. AB'D 'RUANDA, Rio de Janeiro: Gráf. Ed. Aurora, 1954.

No limiar de Umbanda. Vol. 4 da Biblioteca de Umbanda. ZINA SILVA, Rio de Janeiro: Organização Simões, 1954.

A Umbanda perante a crítica. LEOPOLDO BETTIOL, Porto Alegre: Livraria Olímpia, 1954.

As impressionantes cerimônias da Umbanda. BYRON TORRES DE FREITAS & TANCREDO DA SILVA PINTO, Rio de Janeiro: Editora Souza, 1955.

Xangô Djacutá. JOÃO DE FREITAS, Rio de Janeiro: Editora Souza, 1955(25).

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(Caso você, leitor, queira transcrever a listagem acima apresentada, por favor, cite a fonte. Levantamento bibliográfico também é pesquisa.)

Conclusão: como pode ser constatado do exposto, a principal editora que impulsionou as publicações de umbanda na primeira metade da década de 50 foi a Ed. Aurora, que sequer foi mencionada dentre aquelas alocadas na nota de rodapé 166 (pág. 220) de [Cumino, 2010]! Além disso, duas das editoras ali citadas (Ed. Espiritualista e Ed. Eco) nem mesmo existiam até 1955... Do que sabemos, a primeira -- responsável pela continuação do lançamento dos títulos da Coleção Espiritualista a partir de meados de 1957, oscilando com a Ed. Aurora na publicação de tais títulos a partir de então -- surgiu nesse ano, e a Ed. Eco -- responsável pela publicação de importantes obras como Umbanda dos Pretos Velhos, de Antônio Alves Teixeira Neto, em 1965(26); Umbanda de Caboclos, de Decelso, em 1967(27); Okê Caboclo!, de Benjamin Figueiredo, em 1968(28), e O que é a umbanda, de Cavalcanti Bandeira, em 1970(29) --, por volta de 1963.

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1- Cumino, em História da Umbanda, também utiliza o referido ano como um divisor de águas para a literatura umbandista, e deixa de fazer considerações sobre obras na sequência, mas, curiosamente, limita-se a dizer que "a partir de 1956, fica mais evidente uma segunda geração de autores que trabalham com bibliografia fundamentada em títulos de Umbanda; no entanto, as teorias da primeira geração vão aparecer nessas obras sem citação regular ou créditos autorais" [Cumino, 2010, p. 271]... Será que este proceder foi honesto? Não nos parece. Aliás, Matta e Silva não é mencionado uma única vez no livro! Nem mesmo quando o autor trata de citar "alguns autores umbandistas dedicados e de primeira linha nessa segunda geração" [ibid.], o que mostra que Cumino não considera Matta e Silva um autor dedicado e de primeira linha... Se o motivo para deixar de fazer considerações sobre a literatura umbandista a partir de 1956 fosse o fato de teorias da primeira geração aparecerem, nas obras então publicadas, sem citação regular ou créditos autorais, Cumino deveria ter parado em 1951, quando foi publicada "Doutrina e Ritual de Umbanda", obra de Byron Torres de Freitas e Tancredo da Silva Pinto, vez que, como ele mesmo observa [Cumino, 2010, p. 247], os autores utilizam-se de ideias trabalhadas no Primeiro Congresso do Espiritismo de Umbanda e nas obras de Emanuel Zespo e Oliveira Magno sem citação regular ou créditos autorais... Parece então que ele deixou de pontuar sobre a literatura umbandista a partir de 1956 simplesmente para evitar fazer considerações sobre a obra de Matta e Silva. Bem, se assim é, esperamos, por questão de simples honestidade intelectual -- virtude essencial para todos que se metam a fazer trabalhos históricos --, que numa próxima edição de História da Umbanda, caso houver, o autor trate de dizer com todas as letras o que pensa sobre Matta e Silva, ainda que sob a forma de ácida crítica. O que não caiu nada bem, a nosso ver, foi essa singular omissão de um autor tão considerado por certa linha de umbandistas. -- Nota atualizada em 02/06/2021 (voltar)
2- [Trindade, 2010, pp. 42 e 264] apresenta erroneamente a Ed. Espiritualista -- que nem existia em 1941! -- como a responsável pela publicação deste livro. (voltar)
3- [Cumino, 2010] apresenta ora 1938 (p. 94), ora 1939 (p. 225), como ano de lançamento deste livro. (voltar)
4- [Trindade, 2010, pp. 47 e 263] apresenta erroneamente uma tal editora São José como a responsável pela publicação desta obra. Na pág. 47 também está dito que Lourenço Braga "não havia compreendido que a umbanda era uma religião autônoma e não fazia parte do espiritismo" e que o autor teria afirmado, no livro, que a "umbanda tornou-se conhecida no Brasil através da colonização africana", ignorando que a umbanda é uma religião brasileira. Sobre o primeiro ponto, a questão é outra. O fato é que Braga nem mesmo associou o conceito de religião à palavra "umbanda", preferindo defini-la, ora como "magia branca", ora como uma "organização espiritual". Sobre o segundo ponto, vale dizer que a transcrição não foi feita corretamente. O que Lourenço Braga disse foi o seguinte: "Umbanda" tornou-se conhecida no Brasil através da colonização africana. Sua significação era a seguinte: -- fazer magia, por intermedio das forças invisiveis [...] (Umbanda e Quimbanda, 1942, p. 21). Ou seja, claro está que Braga referia-se à palavra "umbanda", não à religião umbanda, mesmo porque, conforme já dissemos, no livro o autor não utiliza a palavra "umbanda" para designar uma religião. (voltar)
5- [Cumino, 2010, p. 229] apresenta 1953. (voltar)
6- [Cumino, 2010, p. 229] e [Trindade, 2010, pp. 48 e 263] apresentam 1950. (voltar)
7Ao contrário do que consta em [Cumino, 2010, p. 111], em 1946 esta obra ainda não fazia parte da Biblioteca Espiritualista Brasileira, o que só passou a ocorrer a partir de sua 2a. ed., em 1949. (volta) 
8- Em [Trindade, 2010, p. 70] faltou informar que a descrição do livro ali corresponde à 3a. edição da obra. Na mesma página é afirmado que o livro não trouxe nenhuma importante novidade "em relação ao que já havia sido escrito anteriormente", mas, até onde sei, ele foi pioneiro em que registrar a ideia da umbanda como a "Quarta Revelação", e isto é uma importante "novidade", não?... (voltar)
9- [Trindade, 2010, pp. 55 e 265] registra Ed. Espiritualista e 1950... (voltar)
10- [Cumino, 2010, p. 266] registra o ano 1953. (voltar)
11- [Cumino, 2010, p. 234] registra o ano 1949. (voltar)
12- [Trindade, 2010, pp. 51 e 265] registra Ed. Espiritualista... (voltar)
13- [Cumino, 2010, p. 232] não menciona que este volume de Codificação da Lei de Umbanda foi publicado em 1951. (voltar)
14- [Cumino, 2010, pp. 54 e 398] e [Trindade, 2010, pp. 66 e 266] citam Ed. Espiritualista... (voltar)
15- [Trindade, 2010, p. 55] registra Ed. Espiritualista... (voltar)
16- [Cumino, 2010, p. 264] registra 1951... (voltar)
17- [Trindade, 2010, pp. 60 e 264] registra Ed. Espiritualista... (voltar)
18Ibid. registra 1951... (voltar)
19- [Trindade, 2010, pp. 58 e 264] registra Ed. Espiritualista... (voltar)
20- Ibid. registra 1950... (voltar)
21- [Trindade, 2010, pp. 52 e 265] registra Ed. Espiritualista... (voltar)
22- [Cumino, 2010, p. 239] e [Trindade, 2010, pp. 52 e 265] registram 1952... (voltar)
23- [Cumino, 2010, p. 251] registra 1953, que é apenas um ano citado na obra, provavelmente quando foi escrita. (voltar)
24- [Trindade, 2010, pp. 74 e 266] registra Ed. Espiritualista... (voltar)
25- [Cumino, 2010, p. 225] registra década de 40... (voltar)
26- Não conseguimos verificar a informação constante em [Trindade, 2010, pp. 88 e 265] de que esta obra teria sido publicada antes, mas neste mesmo ano, pela Ed. Espiritualista. (voltar)
27- Em [Trindade, 2010, pp. 114 e 264] consta 1972... (voltar)
28- Em [Trindade, 2010, p. 86] consta 1961... (voltar)
29- Em [Trindade, 2010, pp. 134 e 263] consta 1973... (voltar)