(Edmar Arantes)
Há dez anos atrás adquiríamos o livro mencionado no título desta postagem, conforme informamos em outro post deste mesmo blog (aqui). Escrito por Diamantino Trindade, prefaciado por Alexandre Cumino e publicado em 2010 pela Editora do Conhecimento, que afirma na orelha da obra ser o autor "considerado o maior historiador da umbanda", o livro, que contém 288 páginas, é dividido em 6 (seis) partes, a saber: "Antônio Eliezer Leal de Souza: o primeiro escritor de umbanda", "A umbanda na ótica dos umbandistas", "A umbanda na ótica da sociologia e da antropologia", "A umbanda na ótica da Igreja Católica", "A umbanda na ótica do kardecismo" e "A umbanda na ótica das revistas". Aqui, neste texto, restringir-nos-emos à exposição dos problemas encontrados nas duas primeiras partes, que perpassam 174 páginas,
a grande maioria deles notados já há dez anos. O texto será dividido em seções, nomeadas pela espécie de "problema" exemplificado e em ordem crescente de gravidade. Erros menores, como trocas de nomes, não serão expostos.
Inexatidões
O autor exibe as capas da maior parte dos livros citados no texto, mas, com exceção daquelas exibidas nas páginas 30, 31 e 84, não especifica as edições referentes a elas, fazendo com que o leitor tenha a falsa impressão de que as capas apresentadas correspondem às edições originais, o que nem sempre é verdade.
Dois pesos, duas medidas
Referindo-se a Loureço Braga, diz o autor: "Lourenço prestou um desserviço à umbanda quando afirmou que os exus são egoístas, interesseiros e vingativos" (pág. 47). Ora, ora... Leal de Souza, referindo-se a estes seres, disse praticamente o mesmo no cap. XIV (A magia negra) de seu livro O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda: "Tais entidades tem ufania de poder; são com frequência, irritadiças e vingativas"... A respeito de Leal de Souza, porém, Trindade não faz crítica alguma. Muito pelo contrário! Só elogios. Muitos elogios. Elogios por tudo quanto é canto...
Uma omissão capciosa
Num passar de olhos no índice da obra, observamos que o autor simplesmente fez "vistas grossas" ao sacerdote e escritor umbandista F. Rivas Neto, autor de importantes obras, como Umbanda – a Proto-Síntese Cósmica, publicada pela Livraria Freitas Bastos em 1989 e posteriormente reeditada pela Editora Pensamento. Não temos dúvida de que isto ocorreu por questões de ordem pessoal, e é lamentável que um autor que pretenda abordar historicamente determinado assunto simplesmente omita certos nomes por questões de afeição. Curiosidades à parte, Diamantino Trindade fez questão de mencionar a si mesmo dentre os autores da literatura umbandista, ainda que não tenha o mesmo alcance de Rivas Neto neste campo.
Informações erradas
1- À pág. 42 consta que o livro Umbanda, de João de Freitas, teria sido publicado em 1941 pela Editora Espiritualista. Grande erro. Tal livro foi publicado inicialmente sem editora e, até onde sei, nunca chegou a ser editado pela Espiritualista. E mais: esta editora nem mesmo existia em 1941! Só foi criada em meados de 1957 (vide aqui).
2- À pág. 43 consta que o referido livro foi publicado após o Primeiro Congresso Brasileiro de Espiritismo de Umbanda. Está errado. O livro de João de Freitas foi publicado antes, em 1941 (o livro do congresso saiu em 1942).
3- À pág. 47 consta que Umbanda (Magia Branca) e Quimbanda (Magia Negra), livro de Lourenço braga, teria sido publicado por uma tal Editora São José. Está errado. O livro foi publicado pela Livraria Jacintho.
4- Na mesma página Trindade diz que Braga "não havia compreendido que a umbanda era uma religião autônoma e não fazia parte do espiritismo". Errado. Braga nem mesmo associa o conceito de religião a "umbanda", ora utilizando a palavra para designar "magia branca", ora para nominar uma "organização espiritual".
5- E o autor continua... Afirma que Braga teria dito que a "umbanda tornou-se conhecida no Brasil através da colonização africana", ignorando, portanto, seu caráter de religião brasileira. A transcrição não fora feita corretamente. O que Lourenço Braga disse foi o seguinte: "'Umbanda' tornou-se conhecida no Brasil através da colonização africana. Sua significação era a seguinte: -- fazer magia, por intermedio das forças invisiveis [...]" (Umbanda e Quimbanda, 1942, p. 21). Ou seja, claro está que Braga referia-se à palavra "umbanda", não à religião umbanda, mesmo porque, conforme já dissemos, no livro o autor não utiliza a palavra "umbanda" para designar uma religião.
6- À pág. 48 Trindade afirma que a obra Trabalho de Umbanda ou Magia Prática, de Lourenço Braga, teria sido publicada em 1950 por Edições Fontoura, quando na realidade foi publicada em 1946 pela Editora Moderna...
7- Na pág. 49, referindo-se às descrições que Lourenço Braga (Trindade tem verdadeira fixação em tentar diminuir o trabalho deste!) fizera sobre os exus, diz: "Estas descrições foram suficientes para que os 'santeiros' criassem as imagens aberrantes que ainda hoje são comercializadas nas casas de artigos religiosos de umbanda". Erro. Antes da publicação do trabalho de Braga já era comum serem associadas aos exus figuras estranhas. Por exemplo, na obra Umbanda (1941), de João de Freitas, capítulo No Leblon, o autor foi apresentado à imagem de Exu Tiriri: "uma cabeça com dois chifres e orelhas pontiagudas à semelhança de Fauno, o deus campestre, segundo a mitologia romana".
8- À pág. 51 consta que a obra Umbanda Esotérica e Iniciática (1950) teria sido publicada pela Editora Espiritualista. Errado. Ela foi lançada pela Editora Aurora, só posteriormente tendo sido editada pela Espiritualista.
9- À pág. 52 consta que a obra Umbanda e Ocultismo teria sido publicada pela Editora Espiritualista. Errado. Ela foi lançada pela Editora Aurora em 1953, só posteriormente tendo sido editada pela Espiritualista.
10- À pág. 55 consta que a obra Alquimia de Umbanda teria sido publicada pela Editora Espiritualista em 1950. Errado. Esta obra fora lançada pela Editora Coruja em 1949, só posteriormente sendo editada pela Espiritualista.
11- Na mesma página, consta que a obra Umbanda Mista teria sido publicada pela Editora Espiritualista. Errado. Esta obra fora lançada sem editora em 1951, só posteriormente sendo editada pela Espiritualista.
12- À pág. 58 consta que a obra A Umbanda Através dos Séculos teria sido publicada em 1950 pela Editora Espiritualista. Errado. Em 1950 a Ed. Espiritualista nem mesmo existia!
13- À pág. 60 diz que a obra Exu teria sido publicada em 1951 pela Editora Espiritualista. Errado. Ela foi publicada sem editora em 1952, só posteriormente tendo sido editada pela Espiritualista.
14- À pág. 70 é dito que a obra O que é a Umbanda? teria sido publicada pela Biblioteca Espiritualista Brasileira em 1953. Errado. Ela foi publicada sem editora em 1946, e com o autor (Emanuel Zespo) adotando seu nome verdadeiro, Paulo Menezes. A edição de 1953 é a 3a..
15- Na mesma página é dito que "a obra não traz grandes novidades em relação ao que já havia sido escrito anteriormente", mas ela foi pioneira em expor a umbanda como a Quarta Revelação (o Antigo Testamento seria a primeira, o Novo Testamento a segunda, e a Doutrina Espírita a terceira).
16- À pág. 74 é dito que a obra Lições de Umbanda (1954) teria sido publicada pela Editora Espiritualista. Errado. Ela foi lançada pela Editora Aurora, só posteriormente tendo sido editada pela Espiritualista.
17- À pág. 76 é afirmado que o Jornal de Umbanda teria sido fundado em 1939 por Zélio de Morais. Alexandre Cumino expõe informação diversa em sua obra História da Umbanda (2010). Tal jornal teria sido criado em 1949 pela UEUB (União Espírita de Umbanda do Brasil). Vide págs. 158-159 da obra citada.
18- À pág. 80 afirma que a obra Doutrina Secreta da Umbanda, de W. W. da Matta e Silva, teria sido publicada em seguida a Umbanda - Sua Eterna Doutrina (1957). Errado. Em sequência à obra referida foi publicada Lições de Umbanda e Quimbanda nas Palavras de um Prêto-Velho (1961). Doutrina Secreta da Umbanda só seria publicada em 1967.
19- Na mesma página, afirma que Macumbas e Candomblés na Umbanda teria sido publicada em 1975. Errado. Tal obra foi publicada em 1970.
20- À pág. 86 é dito que o livro Okê Caboclo! teria sido publicado em 1961 pela Editora Eco. Errado. Tal livro foi publicado em 1968. Aliás, em 1961 a Editora Eco nem mesmo existia!
21- À pág. 88, Trindade afirma que Umbanda dos Prêtos Velhos teria sido publicada em 1965 pela Editora Espiritualista e só depois reeditada pela Editora Eco. Não conseguimos verificar esta informação, e acreditamos estar incorreta, pois há uma edição já de 1965 pela Eco.
22- Na mesma página é dito que na obra referida o autor procura desvincular a umbanda do ramo do espiritismo. Não é isso que o autor faz. Ele diferencia umbanda de kardecismo, mas considera ambos como formas de espiritismo.
23- Na pág. 89 Trindade fala que Despachos e Oferendas na Umbanda teria sido publicada em 1974. Errado. A obra foi publicada em 1969. Além disso, ele fala da reprodução, na obra, de trecho do autor Alvarino Selva. Não se trata de um outro autor. Alvarino Selva é apenas um dos pseudônimos que Teixeira Neto utilizava (vide, deste autor, publicado sob o pseudônimo Antônio de Alva, Exu – o gênio do bem e do mal, Ed. Espiritualista, s/d, pág. 10).
24- À pág. 91 é dito que o periódico Jornal de Umbanda teria sido lançado em 1947. Sobre este ponto, vide nota 17, acima.
25- À pág. 103 Trindade diz que no plano físico a umbanda teria sido fundada em 1935 pelo Cap. Pessoa (José Álvares Pessoa). Um disparate, simplesmente.
26- Na pág. 114 é dito que a obra Umbanda de Caboclos teria sido publicada em 1972. Errado. Ela foi publicada em 1967.
27- Na pág. 134 é dito que a obra de Cavalcanti Bandeira O que é a umbanda teria sido publicada em 1973. Errado. Ela foi publicada em 1970.
Falsificações históricas
1- À pág. 22 Trindade afirma, referindo-se a Leal de Souza: "Devido ao seu prestígio e conhecimento, o Primeiro Congresso Brasileiro de Espiritismo de Umbanda, realizado em 1941 no Rio de Janeiro, aprovou essas Sete Linhas". Tremenda MENTIRA! As "linhas" de Leal de Souza não foram sequer apresentadas no congresso referido! Representando as tendas espíritas São Jerônimo e São Jorge, respectivamente, fundadas sob ordem do Caboclo das Sete Encruzilhadas (Leal de Souza, que não participou do congresso, também dirigia uma dessas tendas, a Nossa Senhora da Conceição), os drs. Jayme Madruga e Antonio Barbosa nem tocaram no assunto em suas preleções! (O Primeiro Congresso Brasileiro de Espiritismo de Umbanda teve os trabalhos ali apresentados compilados em livro. Basta consultá-lo. Está disponível na internet.)
2- À pág. 43, mais uma vez tentando insuflar o prestígio de Leal de Souza, afirma: "João de Freitas [em Umbanda, 1941] cita Leal de Souza diversas vezes, mostrando que era uma referência importante para ele" (grifei). Tremendo EXAGERO! Temos a obra de João de Freitas em sua 3a. edição, de 1946. Leal de Souza é citado apenas duas vezes, com trechos transcritos às págs. 43-44 e 121 do referido livro. Aliás, diga-se de passagem, João de Freitas, no Primeiro Congresso de Espiritismo de Umbanda (1941), posicionou-se CONTRA a divisão linhas brancas / linhas negras utilizada por Leal de Souza em sua obra O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda (1933). Vejamos o que ele diz: "Não concebendo, como não podemos conceber a Umbanda sem o seu ritual, porque sem ele, ela deixa de ser Umbanda, proponho o seguinte: 1.°) A Federação Espírita de Umbanda não reconhecerá, por forma alguma, linhas brancas nem linhas pretas; visto que isto significaria o seu desmembramento em detrimento do esforço dispendido [...]".
3- À pág. 103 Trindade diz que a obra Umbanda: religião do Brasil teria sido publicada em 1968. Como ela fora publicada em 1960, pensamos inicialmente que se tratava apenas de mais uma informação errada do autor. Mas não! Foi tudo muito bem urdido. Agiu realmente como um pilanta o Sr. Diamantino. Pois vejam: na pág. 107, para que a fundação da umbanda coincidisse justamente com o 1908 tão aclamado por ele e outros irresponsáveis (essa data não tem fundamento histórico algum), Trindade ADULTEROU trecho de um artigo de José Álvares Pessoa constante do livro citado! O original diz o seguinte: "Há uns quarenta anos mais ou menos, aproveitando a enorme aceitação dos fenômenos espíritas por parte dos brasileiros, entidades que presidem o destino espiritual da raça resolveram levar adiante a árdua tarefa de lhes dar uma religião que fosse genuinamente brasileira" (Umbanda: religião do Brasil, Ed. Obelisco, 1960, pág. 63, grifo meu). Ou seja, tendo a obra sido publicada em 1960, a ação dessas entidades, com vistas à criação de uma religião genuinamente brasileira, teria ocorrido por volta de 1920. Pois bem. E o que Diamantino Trindade fez? Onde constava "quarenta anos", transcreveu "sessenta anos"... Levando em conta que ele já modificara a data de publicação original da obra para 1968, tirando sessenta anos, chegaríamos no aclamado 1908... Realmente inacreditável a desfaçatez do autor!
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sábado, janeiro 30, 2021
domingo, dezembro 16, 2012
As "doutrinas espíritas" de Kardec
(José Edmar Arantes)
Malgrado o esforço de Kardec no primeiro parágrafo da "Introduction a l'Etude de la Doctrine Spirite" da edição definitiva de Le Livre des Esprits (doravante LE) em tentar definir doctrine spirite de forma condizente com a ideia transmitida por esta expressão na capa do livro e no próprio título da referida introdução (algo como "corpo de conhecimentos transmitido por Espíritos"), alterando "Nous dirons donc que la doctrine spirite ou le spiritisme consiste dans la croyance aux relations du monde matériel avec les esprits ou êtres du monde invisible" (LE, 1857, p. 1) para "Nous dirons donc que la doctrine spirite ou le spiritisme a pour principes les relations du monde matériel avec les Esprits ou êtres du monde invisible" (LE, 1860, item I, p. III), ou seja, mudando "consiste na crença em" para "tem por princípios as" -- mudança esta que, em minha opinião, tornou a frase ininteligível [1] --, não há como fugir do fato de que, em outros trechos da "Introduction a l'Etude de la Doctrine Spirite" (e não são poucos), doctrine spirite continuou a significar o que significava no primeiro parágrafo da versão da "Introduction" na edição de 1857, ou seja, crença espírita (crença na existência de Espíritos e de relações destes com o mundo material).
Malgrado o esforço de Kardec no primeiro parágrafo da "Introduction a l'Etude de la Doctrine Spirite" da edição definitiva de Le Livre des Esprits (doravante LE) em tentar definir doctrine spirite de forma condizente com a ideia transmitida por esta expressão na capa do livro e no próprio título da referida introdução (algo como "corpo de conhecimentos transmitido por Espíritos"), alterando "Nous dirons donc que la doctrine spirite ou le spiritisme consiste dans la croyance aux relations du monde matériel avec les esprits ou êtres du monde invisible" (LE, 1857, p. 1) para "Nous dirons donc que la doctrine spirite ou le spiritisme a pour principes les relations du monde matériel avec les Esprits ou êtres du monde invisible" (LE, 1860, item I, p. III), ou seja, mudando "consiste na crença em" para "tem por princípios as" -- mudança esta que, em minha opinião, tornou a frase ininteligível [1] --, não há como fugir do fato de que, em outros trechos da "Introduction a l'Etude de la Doctrine Spirite" (e não são poucos), doctrine spirite continuou a significar o que significava no primeiro parágrafo da versão da "Introduction" na edição de 1857, ou seja, crença espírita (crença na existência de Espíritos e de relações destes com o mundo material).
Até onde sei, Silvino Canuto Abreu (1892-1980) -- um dos maiores intelectuais espíritas que já passou por este país, talvez o maior -- foi o único a ressaltar explicitamente que doctrine, em certos pontos da "Introduction a l'Etude de la Doctrine Spirite", tem o sentido de crença. E como é bem possível que muitos não tenham tomado contato com a obra na qual este "aviso" se encontra (O Primeiro Livro dos Espíritos [2], doravante PLE), seja por falta de oportunidade, seja por desprezo mesmo, estamos a reiterá-lo aqui, e o ilustraremos com alguns trechos da referida introdução nos quais doctrine spirite tem o sentido de crença espírita, o que poderá ser melhor aferido lendo-se mais do contexto em que estão inseridos. Dito isto, vamos aos trechos...
--- "Nous avons cru devoir insister d'autant plus sur ces explications que la doctrine spirite repose naturellement sur l'existence en nous d'un être indépendant de la matière et survivant au corps." (LE, 1857, p. 4; LE, 1860, item II, p. VI)
"Pareceu-nos dever insistir um tanto demais nesta explicação porque a Crença Espírita repousa forçosamente na existência em nós de um ser independente da matéria corpórea e sobrevivente ao corpo." (PLE, 1957, p. 4)
-- "La doctrine spirite, comme toute chose nouvelle [3], a ses adeptes et ses contradicteurs. Nous allons essayer de répondre à quelques-unes des objections de ces derniers, en examinant la valeur des motifs sur lesquels ils s'appuient, sans avoir toutefois la prétention de convaincre tout le monde, car il est des gens qui croient que la lumière a été faite pour eux seuls. [...]" (LE, 1857, p. 4; LE, 1860, item III, p. VII)
"A Crença Espírita, como toda idéia nova, tem seus adeptos e contraditores. Vamos tentar responder aqui a algumas das mais comuns objeções destes últimos, examinando o valor dos motivos alegados e nos quais se apoiam, sem todavia ter a pretensão de convencer tôda a gente, mesmo porque há certas pessoas que supõem ter o Sol nascido somente para elas. [...]" (PLE, 1957, p. 4)
-- "Est-il d'ailleurs besoin d'un diplôme officiel pour avoir du bon sens, et ne compte-t-on en dehors des fauteuils académiques que des sots et des imbéciles? Qu'on veuille bien jeter les yeux sur les adeptes de la doctrine spirite, et l'on verra si l'on n'y rencontre que des ignorants, et si le nombre immense d'hommes de mérite qui l'ont embrassée permet de la reléguer au rang des croyances de bonnes femmes. [...] (LE, 1857, p. 15; LE, 1860 [4], item VII, p. XXI)
"Será porventura necessário diploma oficial para se ter bom senso, e só se contam fora das cátedras acadêmicas pacóvios, paspalhões, tolos e imbecis? Queiram os zoilos lançar o olhar justo sobre os Adeptos da Crença Espírita e hão de ver se entre eles só se acham ignorantes, e se o número imenso de homens de mérito e respeito que a abraçaram lhes permite relegá-la ao rol das crendices de gente à-tôa. [...]" (PLE, 1957, p. 15)
-- "Alors on ajoute que s'il n'y a pas supercherie, des deux côtés on peut être dupe d'une illusion. En bonne logique, la qualité des témoins est d'un certain poids; or c'est ici le cas de demander si la doctrine spirite, qui compte aujourd'hui ses adhérents par millions, ne les recrute que parmi les ignorants? [...]" (LE, 1857, p. 17; LE, 1860, item IX, p. XXV)
"Ainda os antagonistas aduzem : 'Se não há embuste dos dois lados, podeis ser vítima duma ilusão.' Em boa lógica a qualidade das testemunhas possui certo valor. Ora, aqui é o caso de perguntar se a Crença nos Espíritos, que conta hoje seus adeptos por milhões, só os tem recrutado na grande massa d'os ignorantes. [...]" (PLE, 1957, p. 17)
-- "Un fait démontré par l'observation, et confirmé par les esprits [5] eux-mêmes, c'est que les esprits inférieurs empruntent souvent des noms connus et révérés. Qui donc peut nous assurer que ceux qui disent avoir été, par exemple, Socrate, Jules César, Charlemagne, Fénelon, Napoléon, Washington, etc., aient réellement animé ces personnages? Ce doute existe parmi certains adeptes très fervents de la doctrine spirite; ils admettent l'intervention et la manifestation des esprits, mais ils se demandent quel contrôle on peut avoir de leur identité. [...]" (LE, 1857, p. 20; LE, 1860, item XII, p. XXVIII)
"Um fato, demonstrado pela observação e confirmado pelos Espíritos, eles próprios, é que os Espíritos inferiores abusam às vezes de nomes conhecidos e reverenciados. Portanto, quem pode garantir-nos que, dizendo haver sido, por exemplo, SÓCRATES, Júlio CÉSAR, CARLOS Magno, FÉNELON, BONAPARTE, WASHINGTON, etc., hajam de fato animado tais personagens? Existe dúvida até no meio de certos adeptos muito fervorosos da Crença Espírita, que admitem a intervenção e manifestação dos Espíritos, mas perguntam-se que espécie de controle se pode ter da identidade deles." (PLE, 1957, p. 20)
Pronto. Aí está mais um texto para reflexão dos espíritas kardecistas, estes curiosos seres que adoram brigar por palavras e que, por pura ignorância ou incapacidade reflexiva mesmo, não admitem o fato de que, mesmo dentro de uma mesma obra kardequiana, quando fora de restrito contexto, os seus "termos prediletos" são ambíguos.
-- "Alors on ajoute que s'il n'y a pas supercherie, des deux côtés on peut être dupe d'une illusion. En bonne logique, la qualité des témoins est d'un certain poids; or c'est ici le cas de demander si la doctrine spirite, qui compte aujourd'hui ses adhérents par millions, ne les recrute que parmi les ignorants? [...]" (LE, 1857, p. 17; LE, 1860, item IX, p. XXV)
"Ainda os antagonistas aduzem : 'Se não há embuste dos dois lados, podeis ser vítima duma ilusão.' Em boa lógica a qualidade das testemunhas possui certo valor. Ora, aqui é o caso de perguntar se a Crença nos Espíritos, que conta hoje seus adeptos por milhões, só os tem recrutado na grande massa d'os ignorantes. [...]" (PLE, 1957, p. 17)
-- "Un fait démontré par l'observation, et confirmé par les esprits [5] eux-mêmes, c'est que les esprits inférieurs empruntent souvent des noms connus et révérés. Qui donc peut nous assurer que ceux qui disent avoir été, par exemple, Socrate, Jules César, Charlemagne, Fénelon, Napoléon, Washington, etc., aient réellement animé ces personnages? Ce doute existe parmi certains adeptes très fervents de la doctrine spirite; ils admettent l'intervention et la manifestation des esprits, mais ils se demandent quel contrôle on peut avoir de leur identité. [...]" (LE, 1857, p. 20; LE, 1860, item XII, p. XXVIII)
"Um fato, demonstrado pela observação e confirmado pelos Espíritos, eles próprios, é que os Espíritos inferiores abusam às vezes de nomes conhecidos e reverenciados. Portanto, quem pode garantir-nos que, dizendo haver sido, por exemplo, SÓCRATES, Júlio CÉSAR, CARLOS Magno, FÉNELON, BONAPARTE, WASHINGTON, etc., hajam de fato animado tais personagens? Existe dúvida até no meio de certos adeptos muito fervorosos da Crença Espírita, que admitem a intervenção e manifestação dos Espíritos, mas perguntam-se que espécie de controle se pode ter da identidade deles." (PLE, 1957, p. 20)
Pronto. Aí está mais um texto para reflexão dos espíritas kardecistas, estes curiosos seres que adoram brigar por palavras e que, por pura ignorância ou incapacidade reflexiva mesmo, não admitem o fato de que, mesmo dentro de uma mesma obra kardequiana, quando fora de restrito contexto, os seus "termos prediletos" são ambíguos.
______________________
1- Foi muito provavelmente por esta razão que Guillon Ribeiro (FEB) -- e, em sua esteira, Herculano Pires (LAKE), que também se aproveitou em outros momentos da tradução febiana (vide, por exemplo, aqui) -- resolveu, ali, traduzir principes por "princípio", o que, além de ser uma adulteração (ainda que pequena) do que realmente consta na obra original, não me parece recobrar o sentido que Kardec intentou dar à frase. [voltar]
2- O Primeiro Livro dos Espíritos (São Paulo: Companhia Editôra Ismael, 1957), edição comemorativa da versão primeira de Le Livre des Esprits (1857) em texto bilíngue, francês-português, sendo a tradução e as notas devidas a Canuto Abreu. [voltar]
3- Apesar de parecer inconsistente historicamente tal afirmação (e de fato o é, como o item 222 da edição definitiva de O Livro dos Espíritos trata de corrigir), foi exatamente isso o que Kardec disse. [voltar]
4- Nesta edição o trecho encontra-se dentro de um parágrafo, e sem "d'ailleurs". [voltar]
5- Na edição de 1860, esprits passou a constar como Esprits (com a inicial maiúscula) em todo lugar onde aparecia neste trecho. [voltar]
2- O Primeiro Livro dos Espíritos (São Paulo: Companhia Editôra Ismael, 1957), edição comemorativa da versão primeira de Le Livre des Esprits (1857) em texto bilíngue, francês-português, sendo a tradução e as notas devidas a Canuto Abreu. [voltar]
3- Apesar de parecer inconsistente historicamente tal afirmação (e de fato o é, como o item 222 da edição definitiva de O Livro dos Espíritos trata de corrigir), foi exatamente isso o que Kardec disse. [voltar]
4- Nesta edição o trecho encontra-se dentro de um parágrafo, e sem "d'ailleurs". [voltar]
5- Na edição de 1860, esprits passou a constar como Esprits (com a inicial maiúscula) em todo lugar onde aparecia neste trecho. [voltar]
terça-feira, maio 31, 2011
A crítica de uma crítica
Há exatamente 1 ano atrás enviei a alguns colegas e ao Instituto Cultural Kardecista de Santos (ICKS) meu artigo Sobre "A Física no Espiritismo", uma crítica ao trabalho A Física no Espiritismo, de Érika de Carvalho Bastone, apresentado no VIII Simpósio Brasileiro de Pensamento Espírita, ocorrido de 17 a 19 de outubro de 2003 em Santos-SP. Como recentemente descobri que este trabalho foi disponibilizado na Internet (aqui), sinto-me na obrigação de também disponibilizar meu artigo aos internautas. Para vê-lo, basta clicar no link abaixo.
Sobre "A Física no Espiritismo"
Sobre "A Física no Espiritismo"
sexta-feira, setembro 03, 2010
Os vários erros de "Mecanismos da Mediunidade"
Palavras de Deolindo Amorim no "Suplemento Literário" do n. 3 do Correio Fraterno do ABC (ano I, março de 1980):
"No campo espírita, sinceramente, a crítica faz muita falta. Há uma espécie de medo de ser irreverente, e, por isso, não se faz crítica, principalmente quando se trata de obras mediúnicas. Tenho, para mim, que é muito inconveniente, senão prejudicial à própria divulgação da Doutrina, o fato de, em determinados casos, se transformar a comunicação mediúnica em TABU. Aceita-se tudo, sem literatura meditada e sem crítica, apenas porque veio do Alto. É um erro muito grave. Penso, por isso mesmo, que o meio espírita precisa intensificar mais o hábito de leitura em profundidade. (...) E a crítica é das nossas necessidades (...)"
Clique no link abaixo e veja um trabalho que enviei à Comissão Editorial da FEB em 09/07/10 e que acabo de tornar público virtualmente devido à demora da referida comissão em tomar uma posição frente aos problemas levantados.
Problemas em "Mecanismos da Mediunidade"
"No campo espírita, sinceramente, a crítica faz muita falta. Há uma espécie de medo de ser irreverente, e, por isso, não se faz crítica, principalmente quando se trata de obras mediúnicas. Tenho, para mim, que é muito inconveniente, senão prejudicial à própria divulgação da Doutrina, o fato de, em determinados casos, se transformar a comunicação mediúnica em TABU. Aceita-se tudo, sem literatura meditada e sem crítica, apenas porque veio do Alto. É um erro muito grave. Penso, por isso mesmo, que o meio espírita precisa intensificar mais o hábito de leitura em profundidade. (...) E a crítica é das nossas necessidades (...)"
Clique no link abaixo e veja um trabalho que enviei à Comissão Editorial da FEB em 09/07/10 e que acabo de tornar público virtualmente devido à demora da referida comissão em tomar uma posição frente aos problemas levantados.
Problemas em "Mecanismos da Mediunidade"
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