sexta-feira, junho 04, 2021

Autores umbandistas e suas autocontradições

É pena que com o ingresso de letrados metidos a escritores no universo umbandista a coisa tenha perdido sua simplicidade original e se transformado numa confusão só. Já os primeiros autores que escreveram sobre o assunto não se entendiam (vide aqui). Aliás, eram até autocontraditórios! Além de Lourenço Braga, autor cuja obra principal tivemos oportunidade de analisar em outra ocasião (vide link fornecido), há outros. Vejamos.

Emanuel Zespo, em "O que é a umbanda?" (2a. ed., 1949), à pág. 47 diz: (...) convidamos os kardecistas a visitar sessões e terreiros de Umbanda onde "baixam" os Grandes Orixás. Mas na nota 8 do cap. II (pág. 36) havia dito: O supremo Xangô, como sucede com os demais Grandes Orixás africanos, "não baixa" à terra... Ora, os ditos "Grandes Orixás" baixam ou não?

Oliveira Magno, à pág. 18 de "A umbanda esotérica e iniciática" (1950), diz: (...) Mìsticamente, os Orixás representam legiões de espíritos sob a regência ou o comando de um espírito chefe (...) ou seja, as sete linhas, ou melhor, o Setenário nagô com a sua correspondência.

Adiante, porém, na pág. 41:
(...) Oxalá, Iêmanja, Ogun, Oxosse, Xangô, Oxun, Omulu, nomes êsses dados às sete legiões de espíritos governantes dos sete dias da semana. Chamamos a atenção que esta denominação não significa ôrixás mas, sim, nomes êsses dados a cada uma das legiões (ou linhas) que constituem o Setenário nagô.
Vai entender...

Em 1953 veio a lume a obra de Aluizio Fontenelle "A umbanda através dos séculos". À pág. 159 da 5a. edição, consta a seguinte polêmica afirmação do autor:
Sobre essa Umbanda comum que se pratica nos inúmeros terreiros do Brasil, essa Umbanda mistificada e misturada aos credos fetichistas conhecidos com os nomes de Candoblé, Cangerês, Quimbanda etc., estou de pleno acordo com a divisão da mesma em sete (7) linhas; entretanto, segundo as comunicações que me foram dadas por entidades do Astral, trabalhadores das falanges de pretos velhos, caboclos, hindus, e até mesmo pelos próprios EXUS, já essa divisão sofre uma severa modificação (grifei).
À pág. 161, porém, ao comentar sobre sua divisão, diz: Pelo exposto, o REINO DE OBATALÁ comanda sete cortes, as quais, por sua vez, comandam as 7 linhas de Umbanda (...).

Ou seja, a divisão da umbanda em sete linhas "sofre uma severa modificação" e continua em sete linhas (?!).

Da pág. 10 de "As impressionantes cerimônias da umbanda" (1955), obra de Byron Torres de Freitas e Tancredo da Silva Pinto, depreende-se que "Oxalá" seria apenas o nome de uma linha de umbanda, contradizendo o que consta na pág. 7: Oxalá, filho de Deus. Na mesma pág. 10, é dito que o chefe da falange de Oxalá, ou seja, o orixá maior desta falange, de nome Oxalá Alufân, "baixaria" nos terreiros de 21 em 21 anos, mas foi dito na pág. 9 que os grandes orixás não baixam à terra...

O já citado Emanuel Zespo, à pág. 63 de "Codificação da Lei de Umbanda - parte científica e parte prática" (1960), diz que orixá "é uma entidade do plano invisível que jamais encarnou entre humanos" (grifei). À pág. 140, porém, ele zomba dessa ideia! Vejam: "orixás são, antes e acima de tudo, fôrças da natureza, princípios criadores ou destruidores, sòmente personalizáveis na imaginação do homem sempre pronto a pensar num Deus barbudo e velho, qual o Padre Eterno dos católicos" (grifei). Pode isso, Adirso?!

José Paiva de Oliveira, apesar de afirmar, às págs. 54 e 56 de "Os orixás africanos na umbanda", que a correlação de tais divindades com santos católicos apenas se deu como forma dos sacerdotes africanos vindos ao Brasil como escravos fugirem à perseguição religiosa de seus senhores, católicos, ou seja, como forma de disfarce, às págs. 103 e 105 do mesmo livro "escorrega", considerando Jesus Cristo e São Cosme e São Damião como orixás propriamente ditos, o primeiro identificado com Oxalá, e os outros dois com Ibeji.

Nota: A abertura deste post foi alterada em 04/10/2023 e um outro autor contraditório foi acrescentado em 08/11/2023

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